█ Não foi o mordomo. Foi o candidato a presidente pelo Partido Democrata dos Estado Unidos

Carlos Alberto Pinto Silva[1]


  1. CHEGANDO AO SUSPEITO

“Em entrevista, Joe Biden, vice-presidente no governo Barack Obama e candidato, pelo Partido Democrata, à presidência dos EUA em 2020, alerta Bolsonaro que ‘reunirá o mundo’ para garantir a proteção da Amazônia”[2]


Não é o primeiro e nem será o último político do Partido Democrata dos Estados Unidos a se referir ao assunto demonstrando desconhecimento em relação ao Brasil e suas autoridades, à Amazônia e à capacidade de reação do povo brasileiro e das suas Forças Armadas.


O assunto não é novo para os “Democratas”[3]. Uma comissão de senadores americanos, entre eles Albert Gore, no final de 1988 esteve em Rondônia e no Acre para manifestar sua revolta no caso do assassinato do líder sindical Chico Mendes; o Secretário de Estado Warren Christopher, do primeiro mandato do Presidente Clinton, foi enfático ao colocar os assuntos do meio ambiente: “Na prioridade da política externa americana. Na sua condução usaremos, naturalmente nossa diplomacia apoiada em fortes forças militares”.  Warren Christopher não foi uma voz isolada, o general Patrick [9], da Inteligência Americana, declarou: “Se os brasileiros devastarem e queimarem a floresta amazônica, afetando os nossos interesses, temos o direito de intervir”.


Mais recentemente o presidente do Comitê de Assuntos Tributários (“Ways and Means), Richard E. Neal, e outros deputados do Partido Democrata desse órgão expressaram em três de junho de 2020 sua “forte oposição” a que os Estados Unidos expandam sua parceria econômica com o Brasil “sob a liderança do presidente Jair Bolsonaro”[4].


  • AUSÊNCIA DE LEGITIMIDADE

Pode um governo do Partido Democrata dos Estados Unidos querer criminalizar o governo do Brasil em relação ao cuidado com o meio ambiente?


Penso que não.


– O gás extraído do xisto está transformando a produção de energia nos Estados Unidos e poderá tornar o país autossuficiente. A novidade significa uma revolução econômica e política, mas traz consequências perigosas ao meio ambiente e protestos no mundo todo[5].


– “Os três países que mais emitem dióxido de carbono são também os mais populosos do mundo: China, Índia e os Estados Unidos da América (EUA). Historicamente, os EUA lideram a lista dos países que mais poluíram ao longo do tempo, a China assumiu a ponta das emissões anuais totais a partir de 2006 e a Índia passou a ter as maiores taxas de crescimento das emissões na atual década”.[6]


– Donald Trump anuncia que os Estados Unidos abandonarão o Acordo de Paris sobre mudanças climáticas em 1 de junho de 2017.


3. A AMEAÇA DO SMART POWER


É interessante fazer breves comentários sobre a “Doutrina Hillary Clinton”, denominação à práticas e políticas adotadas por Hillary Clinton  durante seu período como Secretária de Estado dos Estados Unidos e expoente do Partido Democrata dos EUA, Smart Power, Poder Inteligente (PI), em relação ao alerta de Joe Biden ao Presidente Bolsonaro, para entender o que pode se passar com o Brasil.


 Essa Doutrina permitiu usar, contra o Irã, todos os elementos do Poder Nacional dos EUA em uníssono. Significou escolher a combinação certa de instrumentos diplomáticos, econômicos, militares, políticos, jurídicos e culturais para cada situação. 


Ela foi utilizada para reduzir vendas de petróleo iraniano (Área de energia), instrumentos financeiros e parcerias do setor privado para impor sanções rigorosas e excluir o Irã da economia global e, ainda, usou a mídia social para comunicação diretamente com o povo, e empregou  ferramentas de alta tecnologia para ajudar aos dissidentes a escapar da repressão governamental.


Se eleito, o político do Partido Democrata que não quer o Brasil como “Aliado preferencial extra Otan”, e tem a intenção de ‘reunir o mundo’, contra o Brasil, para garantir a proteção da Amazônia”, torna-se prioritário que o Brasil procure outros parceiros.


Caberá, ao Brasil, por imposição de uma super potência, defender a saúde climática do mundo poupando sua floresta de queimar e emitir CO2? Caso contrário, os donos do mundo podem fazer valer sua “diplomacia apoiada por fortes forças militares”[7]?


4. BREVE CONCLUSÃO


A defesa da Amazônia, bem como de todo o território nacional, exige, mais do que capacidade do Poder Militar. O quadro atual das Novas Ameaças Multidimensionais, da existência de uma Superpotência Hegemônica, não pode ser enfrentado e explicado à luz do pensamento político e militar ortodoxo. É um novo campo de batalha, de modo que é preciso afastar o foco do conflito do domínio da arte da guerra convencional, e isso pode ser feito ampliando o espectro do conflito, para incluir vários elementos do Poder Nacional.



[1] Carlos Alberto Pinto Silva / General de Exército da reserva / Ex-comandante do Comando Militar do Oeste, do Comando Militar do Sul, do Comando de Operações Terrestres, Ex-comandante do 2º BIS e da 17ª Bda Inf Sl, Chefe do EM do CMA, Membro da Academia de Defesa e do CEBRES.

[2] https://oglobo.globo.com/mundo/em-entrevista-biden-alerta-bolsonaro-que-reunira-mundo-para-garantir-protecao-da-amazonia-1-24307676 – O Globo – 16/03/2020.

[3] AMAZÔNIA AMEAÇADA, OU É SÓ UMA REAÇÃO AO PRESIDENTE BOLSONARO? Linkhttp://www.defesanet.com.br/ghbr/noticia/33806/Gen-Ex-Pinto-Silva—AMAZONIA-Ameacada–ou-e-so-uma-Reacao-ao-Presidente-Bolsonaro-/

[4] https://liberal.com.br/brasil-e-mundo/economia/democratas-de-comite-dos-eua-se-opoem-a-qualquer-acordo-comercial-com-o-brasil-1223727/

[5]  Por Eduardo Araia – A revolução do xisto. Bom para a economia, péssimo para o meio ambiente.  Link: https://www.brasil247.com/oasis/a-revolucao-do-xisto-bom-para-a-economia-pessimo-para-o-meio-ambiente

[6] https://www.ecodebate.com.br/2019/12/20/emissoes-de-co2-por-area-territorial-nos-3-paises-mais-poluidores-do-mundo-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

[7] http://www.defesanet.com.br/ghbr/noticia/33806/Gen-Ex-Pinto-Silva—AMAZONIA-Ameacada–ou-e-so-uma-Reacao-ao-Presidente-Bolsonaro-/

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