O Marechal-do-Ar Eduardo Gomes, o Brigadeiro, como, modestamente, preferia ser chamado, nasceu em Petrópolis, aos 20 dias do mês de setembro de 1896. Era filho de Luiz Gomes Pereira e de Jenny de Oliveira Gomes.
O pai era oficial da Marinha, e, depois, empresário e jornalista. A mãe, pessoa de grande cultura, falava vários idiomas, era pianista, artista plástica e praticava equitação Estudou nos colégios Werneck e São Vicente de Paula, nos quais, desde muito cedo, revelou-se não somente um aluno excepcional, principalmente em matemática, ciência muito apreciada à época, mas, também, por sua extraordinária liderança. Iniciou sua vida nas Forças Armadas, como cadete, na Escola Militar do Realengo, em 31 de abril de 1916, tendo sido declarado Aspirante a Oficial da Arma de Artilharia, em 17 de dezembro de 1918.
Transferido para o 9º Regimento de Artilharia, em Curitiba, lá permaneceu até matricular-se no primeiro Curso de Observador Aéreo, em 1921, na Escola de Aviação Militar, no Campo dos Afonsos, local impregnado de encanto, mística e tradições aeronáuticas, que já foi sede da lendária Escola de Aeronáutica e onde hoje se instala a Universidade a Força Aérea.
Aí começava o seu amor e a sua dedicação integral à aviação brasileira, que não abandonaria em nenhum momento de sua vida A sua atuação, contudo, foi muito além, da Força Aérea Brasileira, em particular, e da Aeronáutica, em geral. O Brigadeiro Eduardo Gomes foi um grande estadista brasileiro, que nunca deixou de defender os valores, os princípios, as tradições, a soberania, a integridade territorial e as instituições nacionais, ainda que isso lhe pudesse custar a vida. Jamais hesitou em pegar em armas para defender a sua Pátria, sempre que esta se visse ameaçada por aventureiros ou criminosos que qualquer tipo. Assim foi que, em 4 de julho de 1922, apresentou-se no Forte de Copacabana, para aderir ao movimento conhecido como a Revolução dos Tenentes.
Em meio à crise política reinante no final da Administração de Epitácio Pessoa, muito aumentou a gravidade da situação a prisão do Marechal Hermes da Fonseca, então presidente do Clube Militar, por exortar os militares a não reprimirem o povo que se manifestava contra o Governo.
O quadro deteriorou-se de vez, com a prisão do filho do Marechal, o Capitão Euclides Hermes, Comandante do Forte de Copacabana, que fora ao Palácio do Catete, chamado para parlamentar. Sem contar com o prometido apoio de outras unidades, neutralizado pela ação do governo que substituiu os comandantes, e sob o fogo intenso da Fortaleza de Santa Cruz, do Forte de Imbuhy e de navios da Marinha, os líderes do movimento decidiram que a resistência não se daria no Forte. Os rebelados iniciariam uma marcha na direção do Palácio do Catete, combatendo as forças oponentes que encontrassem. Foram liberados, então, para deixar o Forte, todos os militares que não desejassem combater as forças governistas, somente permanecendo um pouco menos de trinta pessoas. Assim, partiram para a luta heroica e suicida contra as forças governistas, desproporcionalmente maiores (cerca de 4.000 homens).
Por sugestão de Eduardo Gomes, a Bandeira Nacional foi dividida em vários pedaços, sendo entregue um deles a cada combatente, reservando-se o último para ser entregue ao Capitão Euclides Hermes. Às 13 horas do dia 6 de julho, iniciaram a marcha pela Avenida Atlântica, tendo-se juntado a eles um civil, o engenheiro gaúcho Otávio Correia, simpatizante das ideias defendidas pelos militares.
O confronto final, que durou cerca de trinta minutos, aconteceu nas proximidades da Rua Barroso, atualmente, Siqueira Campos. Somente sobreviveram, gravemente feridos, os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes. Quantos de fato participaram da marcha, até hoje, não se sabe, já que muitos debandaram ou se renderam, mas a história registrou dezoito, (três oficiais, quatorze praças e um civil), um número próximo da realidade, que veio a dar o nome pelo qual o movimento ficou conhecido: “Os Dezoito do Forte”.
Tendo sido julgado e condenado por sua participação naquele movimento e já se havendo recuperado dos ferimentos, Eduardo Gomes fugiu antes de ser preso e passou a exercer atividades civis com identidade falsa, até ser preso, em Santa Catarina, no ano de 1924. Cumpriu pena, inicialmente, na Fortaleza de Santa Cruz, depois na Ilha da Trindade e, com a eleição de Washington Luiz, em novembro de 1926, voltou ao Rio de Janeiro, em liberdade condicional.
Sempre disposto a lutar pelos seus ideais, participou do movimento revolucionário de 1930, que saiu vitorioso. Como consequência, foi finalmente anistiado e reintegrado à vida militar. No final do mesmo ano de 1930, já como Major, fez o curso de pilotagem na Escola de Aviação Militar, no Campo dos Afonsos, e passou a liderar a campanha para a criação do Correio Aéreo, no Ministério da Guerra. Como resultado desse empenho, foi criado, também no Campo dos Afonsos, o Grupo Misto de Aviação, e, a ele subordinado, o Serviço Postal Aéreo Militar, que logo passou a chamar-se de Correio Aéreo Militar. Assim, no dia 12 de junho de 1931, os Tenentes Nelson Freyre LavenèreWanderley e Casimiro Montenegro Filho, realizaram o primeiro vôo do Correio Aéreo Militar, transportando uma mala postal da Empresa de Correios, do Rio de Janeiro para São Paulo. O pioneirismo desse feito, a sua importância para a integração nacional e quanto esforço foi necessário para se chegar a tanto ficam muito difíceis de perceber, em função das facilidades agora existentes.
Em agosto de 1931, como coroamento do seu trabalho, assumiu Comando do Grupo Misto de Aviação. Em 1932, como Comandante das Forças da Aviação Militar do Governo Federal, combateu Revolução Constitucionalista no Estado de São Paulo, tendo sua atuação tido grande importância para o fim da insurreição. Terminado o conflito, reassumiu o Comando. Em 1933, foi criado, em substituição ao Grupo Misto, o 1º Regimento de Aviação, permanecendo Eduardo Gomes no Comando.
Dando sequência ao seu planejamento, passou a ampliar, progressivamente, a área coberta pelo Correio Aéreo Militar, até estendê-la a todo o território nacional. Entre os dias 23 e 25 de novembro de 1935, sob a inspiração da Internacional Comunista, então sob as ordens de Stalin, que infiltrara vários agentes de seu Comitê Executivo disfarçados de assessores nos quadros do Partido Comunista Brasileiro, este promoveu levantes nas cidades de Natal e Recife, com a intenção de tomar o governo e implantar a ditadura do proletariado no Brasil.
No dia 27 de novembro, o movimento antinacional e fratricida chegou ao Rio de Janeiro, então Capital da República, onde assumiu proporções dramáticas, com o assassinato covarde de militares enquanto dormiam, praticado por seus colegas convertidos ao comunismo. Os comunistas agiram, simultaneamente, no 3º Regimento de Infantaria, na Praia Vermelha; no 2º Regimento de Infantaria e no Batalhão de Comunicações, na Vila Militar; e na Escola de Aviação Militar, no Campo dos Afonsos.
Eduardo Gomes era o Comandante do Primeiro Regimento de Aviação. na área sublevado dos Campo dos Afonsos, e teve a oportunidade de, mais uma vez, demonstrar toda a sua coragem, toda a sua bravura e todo o seu heroísmo.
Agindo de surpresa, revoltosos comunistas tomaram quase todas as instalações do Regimento, e, mesmo ferido na mão por um tiro de fuzil no início dos combates, o Brigadeiro, juntamente com oficiais e praças leais, resistiu ao cerco do inimigo, que durou toda a noite, até a chegada dos reforços que solicitara ao Regimento Andrade Neves, quando os traidores foram dominados.
A firmeza, a persistência e a coragem de Eduardo Gomes impediram que muitos mais brasileiros fossem assassinados por comunistas, movidos pela insanidade provocada por sua ideologia deletéria. O levante foi rapidamente sufocado em todo o território nacional, restando, apenas, como saldo, as dezenas de brasileiros estupidamente assassinados e a persistente contaminação ideológica que ainda hoje nos ameaça.
Eduardo Gomes permaneceu no Comando do Primeiro Regimento de Aviação, até 10 de novembro de 1937, quando, por não concordar com o golpe de Estado de Getúlio Vargas que instituiu o Estado Novo, entregou o cargo. Apesar disso, foi promovido a coronel, em maio de 1938. Tendo sido criado, na Diretoria de Aeronáutica do Exército, em junho de 1938, o Serviço de Rotas e Bases Aéreas, ao qual se subordinavam o Correio Aéreo Militar, o Serviço de Meteorologia, o Serviço de Radiocomunicações e o Serviço de Manutenção dos Campos de Pouso, mais uma vez, Eduardo Gomes se tornou primeiro chefe de uma organização ligada à Aviação Militar.
Com a criação do Ministério da Aeronáutica, em 20 de janeiro de 1941, passou a integrar a Força Aérea Brasileira e, em 10 de dezembro, foi promovido a Brigadeiro, tendo, dois dias depois, assumido o Comando da 2ª Zona Aérea, no qual permaneceu até o fim da Segunda Guerra Mundial.
Em agosto de 1942, o Brasil declarou guerra aos países do Eixo, mas Eduardo Gomes, como democrata que era, há muito, já os combatia, inclusive autorizando o ataque a submarinos alemães por aviões da Força Aérea Brasileira que patrulhavam as nossas costas ou davam cobertura aérea aos nossos navios. Como éramos aliados dos Estados Unidos, concordara com a cessão das nossas Bases Aéreas no Nordeste, durante a guerra, e deu-lhes todo o apoio para que as usassem, sem, contudo, jamais permitir qualquer perda de nossa soberania na Região.
Graças às suas atitudes firmes e corajosas, o Brasil se tornou um dos poucos países aliados que não ficou com bases americanas, como enclaves em seu território, depois do fim do conflito. Em setembro de 1944, foi promovido a Major-Brigadeiro-do-Ar. Mas Eduardo Gomes não se destacou somente como militar. A par de sua abnegada dedicação à Força Aérea Brasileira e ao Correio Aéreo Nacional, também foi um grande estadista, sempre preocupado com os destinos do Brasil Terminada a Guerra, dedicou-se, com a sua tradicional persistência, à luta pela redemocratização do País. Desse modo, concorreu duas vezes à Presidência da República. A primeira, em 2 de dezembro de 1945, depois da deposição da ditadura de Getúlio Vargas, contra o Marechal Eurico Gaspar Dutra, candidato dos adeptos de Vargas. A segunda, em 3 de outubro de 1950, contra o próprio Getúlio. Nas duas, foi derrotado pelo populismo, que, já naquela época, mostrava, como hoje, a sua face ditatorial.
Coerente com as suas convicções democráticas, recusou o convite de Presidente eleito, para ser o Ministro da Aeronáutica, continuando na Chefia da Diretoria de Rotas Aéreas, onde permaneceu até 1951, tendo sua administração se caracterizado por notáveis realizações, tanto no que se refere ao apoio à navegação aérea quanto ao desenvolvimento do Correio Aéreo Nacional.
Com o suicídio de Getúlio Vargas no dia 24 de agosto de 1954, em meio aos múltiplos escândalos que sufocavam o seu governo, assumiu a Presidência da República o Dr. Café Filho e, assim, finalmente, Eduardo Gomes tornou-se Ministro da Aeronáutica, naquele mesmo dia 24 de agosto. Com a eleição de Juscelino Kubitschek em 3 de outubro de 1955, Eduardo Gomes deixou o Ministério em 11 de novembro do mesmo ano.
Em 13 de setembro de 1960, passou para a Reserva, tendo sido promovido a Marechal do Ar no dia 22 de setembro.
Sempre atento aos problemas nacionais, participou da vitoriosa Revolução Democrática de 31 de Março, que abortou mais uma tentativa de se implantar uma ditadura comunista no Brasil.
Convidado pelo Presidente Castello Branco, reassumiu o cargo de Ministro da Aeronáutica, tendo nele permanecido de 11 de janeiro de 1965, até o fim do Governo, em 15 de março de 1967.
Eduardo Gomes era, igualmente, um cidadão exemplar e solidário, sempre disposto a ajudar a todos os que dele precisassem. Inteiramente desapegado dos bens materiais, não acumulou, ao longo de toda a sua vida, qualquer patrimônio, pois distribuía todos os seus rendimentos aos necessitados. Católico fervoroso, muito ajudou as obras de caridade da Igreja. Talvez por conta de todas as dificuldades por que passou, teve a saúde muito debilitada nos últimos anos de sua vida. Mesmo assim, jamais deixou de comparecer aos eventos da sua Força Aérea. A sua última aparição pública se deu em 12 de junho de 1981, na missa comemorativa do cinquentenário do primeiro voo do Correio Aéreo Militar, no mesmo hangar de onde havia partido aquele voo pioneiro e histórico, em 1931. No dia seguinte, 13 de junho, faleceu Eduardo Gomes. Perdia a Força Aérea Brasileira um de seus mais destacados integrantes, para ganhar uma lenda.
Como reconhecimento por sua extraordinária dedicação, o Marechal-do-Ar Eduardo Gomes foi proclamado, pela Lei nº 7.243, de 6 de novembro de 1984, o Patrono da Força Aérea Brasileira.
Fontes Históricas:
1) Página do Comando da Aeronáutica – Personalidades http://www.fab.mil.br/portal/capa/index.php?page=personalidades
2) Opúsculo “Eduardo Gomes – O Homem e o Mito” Autor: Coronel-Aviador Manoel Cambeses Júnior, Vice-Diretor do INCAER http://www.reservaer.com.br/biblioteca/livros/Eduardo-Gomes.exe
Imagem gentilmente cedida pelo INCAER