█ É hora de definição

Há poucos dias, dissemos, em correspondência com amigos, referindo-nos aos deputados dos partidos de esquerda ou corruptos, estes últimos abrigados no que ficou conhecido como Centrão, sob a liderança do Presidente das Câmara, Rodrigo Maia, que “tais políticos não se deram conta da gravidade da situação em que se encontra o Brasil”.

Ao lermos certas mensagens que temos recebido, com muita tristeza e grande preocupação, percebemos que estávamos, parcialmente, enganado. Não somente a escória dos políticos, mas, também, muitos de nós, que sempre os combateram, parece que, igualmente, não vislumbram quão séria é a ameaça que nos assombra.

Entendemos que aqueles que fazem oposição ideológica ao Governo, assim como os meios de comunicação tradicionais, que sempre lhes foram simpáticos, mas que perderam as benesses que recebiam dos governos de esquerda, adotem postura agressiva contra todos os atos e falas do Presidente Bolsonaro. Isso não nos preocupa nem um pouco, pois eles estão falando para si mesmos e para a pequena parcela de militantes políticos e eleitores radicais, cujas ideias já foram rejeitadas pela grande maioria dos brasileiros.

Incompreensível é que pessoas, que se apresentam como conservadoras e sempre se manifestaram contra a socialização do Brasil e a degradação dos nossos costumes, deixem-se contaminar pela propaganda adversa e lhe venham a fazer coro. Nós elegemos Bolsonaro e somos responsáveis por mantê-lo onde está. Não temos o direito de destruir a última possibilidade de solução institucional para a crise política, econômica e social que assola o País, comportando-nos como alguns jornalistas iconoclastas, que se dizem historiadores ou cientistas políticos e que sempre foram críticos dos governos de Luiz Inácio da Silva e de Dilma Vana Roussef, mas, bem na linha do ditado latino-americano: “si hay Gobierno, estoy en contra”, passaram a atacar impiedosamente, o novo Presidente, antes mesmo de tomar posse.

Não precisamos posar de falsos moralistas, formulando críticas ao governo, que apoiávamos e que não tem alternativa aceitável, para provarmos que somos imparciais e honestos. Já tivemos a vida inteira para fazê-lo, e, se, até agora, nem a nós mesmos, conseguimos convencer-nos disso, seria melhor desistirmos, pois, nesse caso, não conseguiríamos, nem mesmo, enganar a ninguém.

Como ilustração, resgatamos, de um lugar quase perdido de nossa memória, uma conversa que tivemos, quando ainda éramos Tenente, com o Comandante da Base Aérea de Belém, o então Tenente-Coronel-Aviador Wilson França, excelente Oficial e um dos melhores Chefes que tivemos.

Ao ouvirmos do Comandante que “à mulher de César não basta ser honesta, precisa parecer honesta”, não hesitamos em dizer: “o Senhor me desculpe, Coronel, mas para mim, o simples fato de uma pessoa procurar parecer honesta, já a torna desonesta”.

Nosso velho Comandante, em um tom bastante tolerante, disse-nos: “Ah! Meu filho, você ainda tem muito o que aprender com a vida”.

Nunca mais esquecemos suas proféticas palavras. Sim, tínhamos muito o que aprender com a vida, e o fizemos, mas, até hoje, não nos deixamos pautar pelo inimigo. Jamais fizemos alguma que considerássemos prejudicial ou deixamos de fazer outras, que julgássemos necessárias, por mais graves que nos pudessem ser as consequências, preocupados com o que nos pudesse acontecer ou com o que iria dizer a patrulha ideológica adversa.

Correr riscos calculados é inerente à vida dos militares, mas também faz parte da realidade política. Bolsonaro, há muito tempo, já percebeu que sempre o criticarão, independentemente do que faça ou deixe de fazer, e está livre dos grilhões do politicamente correto com que os ideólogos de esquerda têm limitado as ações de seus opositores.

Resta-nos saber, se, como ele, conseguiremos entrevê-lo e, finalmente, perceberemos que não lidamos com pessoas normais, mas com fanáticos inescrupulosos, para os quais não há limites éticos, e para quem tudo é permitido em nome da “causa”, portanto, os valores que adotamos entre nós não se aplicam, quando somos forçados a interagir com eles.

As forças de esquerda, ainda que fossem barulhentas, sempre foram poucas e propunham ideias, inteiramente, contrárias aos anseios dos brasileiros, por isso, nunca teriam chegado onde chegaram, se não tivessem contado com a nossa ajuda, fosse por ação, fosse por omissão.

Beira a insanidade atacar, em nome da moral e dos bons costumes, ainda que com simples críticas, um governo que, sob violenta oposição, tudo vem tentando fazer para devolver a nossa sociedade ao bom caminho, quando a única alternativa possível para ele é a volta ao caos moral, social, político e econômico que quase nos destruiu como Nação livre e soberana.

Nunca foi tão fácil a escolha. Os dois lados estão muito claramente definidos e não há espaço para ambiguidades. Precisamos decidir em qual dos grupos estamos e defendê-lo com todas as nossas forças.

Se falharmos, a culpa terá sido exclusivamente nossa, mas as gravíssimas consequências se projetarão por todas as gerações futuras.

O autor é Coronel-Aviador, Presidente da Academia Brasileira de Defesa, Vice-Pre-sidente do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos e Membro Efetivo do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil e do Conselho Deliberativo do Clube Militar.