Ninguém é indiferente ao fascínio do mar-oceano. Há os que dele têm medo, da sua majestosa imensidão, da profundidade abissal das suas águas, da sua superfície ondeada pela força dos ventos, principalmente na procela de enormes vagalhões. Deixam-se ficar, crendo-se seguros em terra, a pés enxutos, apenas observando, admirados, o continuado e permanente arrebentar das ondas nas praias ou nas pedras do litoral.
Outros há que o amam apaixonadamente. Os mergulhadores, que buscam estar em contato, conhecer e fotografar as belezas indescritíveis da fauna e da flora submarinas, ou explorar os tesouros guardados por cascos de navios e embarcações soçobrados ao longo do tempo. Os praticantes do remo e da vela, que o cruzam em todas as distâncias e rumos, até os confins da Terra, entre os quais se destacam os bravos navegantes solitários, como o nosso heroico Amir Klink, que atravessou o Atlântico a remo, da África para o Brasil, e explorou os mares antárticos, na companhia de Deus e a bordo do seu amado “Paraty”. Há os pescadores, que tiram diuturnamente do mar o seu sustento e o das famílias, no bom ou no mau tempo, embarcados em grandes ou pequenos navios e em frágeis embarcações, como as jangadas dos corajosos cearenses. Finalmente, há os fazem da vida no mar profissão e razão da existência, na Marinha Mercante e na Marinha Guerra, e são todos conhecidos, identificados e respeitados como Marinheiros!
A Marinha Mercante demanda todos os portos do mundo, transportando passageiros e 95% de todos os bens produzidos pelas nações, sendo a espinha dorsal do comércio mundial. A Marinha de Guerra, em permanente adestramento e atualização de meios, táticas e estratégias, destina-se a garantir a Independência e a Soberania nacionais juntamente com as demais Forças Armadas irmãs, a garantir dissuasão contra adversários e eventuais inimigos, controle das áreas marítimas essenciais ao País e negação do seu uso a países hostis.
Os elegantes marinheiros, bem uniformizados, cativantes pelo espírito e pela palestra agradável sobre terras distantes e experiências muito próprias ali vividas, normalmente bons dançarinos, brilham nos salões e sempre ocuparam lugar de destaque no imaginário das mulheres românticas e sonhadoras de todos os quadrantes, latitudes e longitudes. São os mesmos, porém, que cavalgam com coragem, naturalidade e determinação as vagas ciclópicas e assustadoras do mar em fúria e combatem, como leões, em defesa da Pátria sempre que ameaçada!
Há marinheiros guerreiros de todo tipo: os que, apoiados pelos canhões, aeronaves e mísseis dos navios, desembarcam em sucessivas vagas, a ferro e fogo, em praia hostil, dominada pelo inimigo, e ali estabelecem a cabeça de praia que permitirá o avanço das forças amigas para o interior. São os Fuzileiros Navais.
Outros, realizam golpes de mão, sabotagem, ações de comando, de resgate de pessoal, de reconhecimento e observação, e depois de realizada a missão, retornam ao navio de onde saíram, normalmente submarino, no ponto previamente aprazado. São os Mergulhadores de Combate e as Tropas de Reconhecimento Anfíbio.
Outros, da Marinha de Superfície, combatem a bordo de Navios Lança-Minas, Navios Varredores (de Minas), Caça-Submarinos, Corvetas, Fragatas, Contratorpedeiros, Cruzadores, Encouraçados… Os Aviadores Navais projetam poder sobre terra e realizam ações antissuperfície, antiaéreas, antissubmarinas em aeronaves de asa fixa e helicópteros lançadas de Navios-Aeródromos e Porta–Helicópteros e de todo tipo de navio que disponha de instalações para transportá-los. Finalmente, há os que combatem sob as águas, “os Marinheiros até debaixo d’água” da Força de Submarinos!
Os Marinheiros têm muito em comum em todas as Marinhas do mundo, tradições, usos e costumes, visto que enfrentam os mesmos perigos, vicissitudes e fainas no dia-a-dia no mar. Há um elo especial que os caracteriza e une, como bem definiu Horatio, Lorde Nelson, quando se referiu ao ‘‘band of brothers”. No caso brasileiro, temos ainda o privilégio de seremos herdeiros e descendentes dos “Heróis do Mar’’, como reza o belo Hino Nacional Português, os corajosos navegantes lusitanos inspirados pelo Infante Dom Henrique e cantados imortalmente por Luiz Vaz de Camões, que chegaram ineditamente a todos os pontos do mundo, desbravaram todos os mares e oceanos, “para dilatar a Fé e o Império’’na mais notável Epopeia da Humanidade!
Falei do Mar e dos Marinheiros. Há que falar, ainda, do navio, “nosso barco, nossa alma”, amor e paixão de todo aquele que nele embarca, que aprende a idolatrá-lo em sua forma física, mas também em sua alma, constituída dos sentimentos e dos afetos mais profundos de todos os que nele tenham servido. O Marinheiro leva sempre bem gravadas, no coração, as imagens de todos os navios nos quais embarcou. Não é por acaso que, em inglês, o navio e o barco são tratados carinhosamente como “she”…
Acima de tudo, o Marinheiro crê em Deus e conta com Sua proteção em face dos perigos e desafios a enfrentar, na Paz e na Guerra. Quanto a mim, tenho no Senhor dos Navegantes o Sublime Timoneiro do meu barco nos rumos da Vida!