Recentemente tive a oportunidade de ouvir uma palestra de um renomado mestre espírita que revelava quem são aqueles seres humanos que a pandemia veio buscar.
Dizia ele que a pandemia veio de Deus e que veio buscar aqueles que estavam inscritos no livro onde se contabilizavam os débitos de mortalidade. A própria pandemia daria maior liberdade aos que ficariam vivos neste mundo ainda em ebulição.
Toda grande transformação, segundo ele, produzia o caos, momento de transição, de provas e de calamidades. Este seria o caos de uma nova ordem que viria para melhorar a Terra, para mudar as nossas vidas, a nossa existência terrestre e reduzir o mundo de suas mazelas.
Em que pese toda a admiração que este famoso mestre espírita sempre me despertou, creio que ele disse diversas impropriedades em sua palestra, não sei se inspirado por algum espírito, pouco esclarecido sobre as coisas mundanas, com o qual consegue dialogar quando inspirado de forma mediúnica.
Como tenho lido muito sobre a Nova Ordem Mundial, ordem esta que está, aos poucos, sendo imposta aos habitantes do planeta por diversas personalidades do mundo financeiro (todas vivendo nas sombras e comandando o mundo através de seus prepostos) que desejam implantar o caos neste planeta por razões que nada têm a ver com o Criador de todas as coisas, conforme afirmou o mestre espírita, resolvi enviar uma carta aberta ao Criador, solicitando explicações para este e diversos outros acontecimentos supostamente produzidos por Ele, mas cujas explicações mundanas ou religiosas até hoje não me convenceram. Afinal, estaria o Criador tentando se vingar de suas criaturas? Segue, pois, o teor da minha carta:
Prezado Criador do Universo, Inicialmente – na hipótese de que você realmente exista e que, também, seja o responsável pela criação da vida humana – serei eternamente agradecido por me haver dado o sopro da vida e por permitir que, através de inúmeras encarnações – se é que estas também ocorram -, meu espírito possa evoluir em busca da luz do conhecimento e da perfeição espiritual.
Entretanto, por mais que as religiões e as correntes filosóficas tentem explicar aos seres humanos, quem na realidade somos nós, de onde viemos e para onde vamos; além das razões por que a civilização humana se apresenta da forma como a conhecemos nesta passagem pelo planeta Terra, algumas dúvidas ainda insistem em permanecer na minha mente e em meu coração de filho grato; porém, de espírito muito curioso, amante da Sabedoria e um pouco rebelde.
Minha primeira dúvida diz respeito à razão pela qual você, pai justo e imparcial que é, consentiu em privilegiar um determinado povo e uma determinada religião com o seu amor e as suas benesses, em detrimento de outros povos e de outras religiões (Genesis 9 – Deus disse a Noé e seus filhos: “De minha parte, vou estabelecer minha aliança convosco e com vossa descendência…”); bem como, qual o motivo que o levou a privilegiar o homem em relação à mulher (Genesis 3 – “Teus desejos te arrastarão para o teu marido e ele te dominará…”). Digo isto porque em um livro considerado sagrado, a Bíblia, determinado povo sempre afirmou que fez um pacto com você e que, portando, era o povo por você escolhido. Por sua vez, uma determinada religião, aqui mesmo neste planeta, afirma que os seres humanos só chegarão a você através dela. Esta religião possui até um representante Seu que, da mesma forma que você sempre o foi, também é infalível em suas decisões. Além disto, a maioria das religiões por aqui existentes possui templos luxuosos que necessitam, cada vez mais, de recursos financeiros para se expandirem e, algumas religiões, falando em seu nome através de livros que consideram sagrados, apresentam a mulher como um ser inferior ao homem e a discriminam desde tempos imemoriais, conforme já mencionado.
Dizem até que o homem foi criado primeiro, evidenciando uma inegável descrença em sua onipotência; posto que, com o seu incomensurável poder, certamente deverá ter criado ambos no mesmo momento. Serão verdades estas afirmações daqueles que se apresentam como seus representantes aqui na Terra? Você, realmente, além de ter representantes, possui preferências por povos, religiões, raças e sexos? Porque você só permite que haja santos e só realiza milagres no seio de uma determinada religião? Você necessita mesmo de templos luxuosos para se hospedar em suas passagens pela Terra, ou você se contentaria em habitar lugares mais modestos, como os mares, os rios, as montanhas e os corações dos seres humanos?
Por outro lado, qualquer religião que não objetivasse o domínio de corações e mentes – pelo poder que tal fato representa – deveria ver nas demais religiões grandes parceiras de um mesmo fim, qual seja, o de agradecer nossas existências ao Criador do Universo e da vida e não a de considerar as demais religiões e crenças como inimigas, em um combate sem tréguas, como ocorre desde tempos imemoriais com as principais religiões aqui deste planeta.
Perdoe-me por apresentar estes questionamentos, mas acredito que aqui na Terra estejam propagando boatos inverídicos acerca de Suas ações com respeito a nós, seres humanos, para que venhamos a nos indispor uns contra os outros e contra o nosso criador, criando, assim, uma monumental cizânia.
Minha segunda dúvida, caso não sejam verdadeiras estas preferências anteriormente mencionadas, se refere, ainda, a razão pela qual Você tem permitido, desde o início dos tempos, até o tempo presente, a existência de seres dominadores e de seres dominados? Neste caso, não estaria realmente evidenciada a Sua preferência por alguns de Seus filhos, em detrimento dos outros? Os dominadores (reis, caciques, imperadores, califas, presidentes, elites, etc.), a quem todos estamos subordinados, sempre afirmaram que chegaram até onde chegaram e que dominavam os povos e as populações a eles submetidos, pela graça de Deus; isto é, pelo Seu consentimento e aprovação, afirmando, ainda, que Você os autorizou a continuar eternamente dominando os seres humanos, quer por hereditariedade, quer por alternância no poder entre eles mesmos (grupos, famílias, elites, etc.). Caso não sejam verdadeiras estas afirmações, sugiro que, de alguma forma, dê ciência às Suas criaturas da falsidade de tais assertivas e promova uma total reviravolta nas crenças e crendices que por aqui vicejam.
A terceira dúvida me ocorre quando vislumbro a desigualdade reinante no planeta como um todo: alguns países são mais desenvolvidos que outros culturalmente, economicamente, socialmente, etc. Algumas pessoas são mais bem aquinhoadas do que outras seja em termos de beleza física, de saúde, de riqueza, de inteligência, etc. Creio que se isto ocorre é porque Você assim o quis ou permitiu e, neste caso, não estaria também privilegiando alguns filhos em detrimento de outros?
Reconheço da minha parte que a evolução espiritual, assim como todo tipo de evolução, ocorre através de um processo dialético, no qual a tese e a antítese resultam na síntese, síntese esta que não é mais nem a tese nem a antítese; porém, alguma outra coisa que representa uma simbiose entre as duas. Assim, para que haja evolução espiritual, o ser humano deve conviver com as virtudes e com os vícios em seu caráter e, para a necessária evolução material dos povos e dos indivíduos, há necessidade da existência do contraditório e das diferenças, tanto entre os indivíduos quanto nas relações sociais. Entretanto, o primeiro pensamento que ocorre aos menos aquinhoados é o de que foram alvos de uma grande injustiça; pois, já iniciaram com uma largada mal feita na corrida pela existência.
Tal pensamento não deixa de ser pertinente, principalmente, ao considerarmos que vivemos em um meio inóspito em que competimos entre nós mesmos e com as demais espécies existentes no planeta. A competição atual pelos alimentos, pelo espaço, pelos recursos naturais, pelos empregos e pela posse de bens, a que fomos levados ao longo dos tempos, independe daqueles novos seres humanos, cuja matéria e espírito estão chegando a este planeta neste momento através do nascimento; pois, é fruto de decisões tomadas, tanto anteriormente quanto na atualidade, por elites econômicas, políticas, religiosas e militares, que dominam os países e o planeta desde primitivas eras. Suponho que Você esteja a par disto tudo e que tenha permitido que assim seja; embora eu considere que um pai não deva privilegiar desigualmente seus filhos, dando mais para uns e menos para outros.
Com a hipótese de múltiplas encarnações, adotada pelos espíritas, pelos budistas, hinduístas, etc., posso imaginar que aquilo que hoje me afigura como uma tremenda injustiça, amanhã, poderá se revelar como fruto da maior sabedoria. Explico-me melhor: se nesta encarnação pertenci à plebe rude e ignara e fui pobre, feio, sem saúde e desprovido de inteligência, em uma próxima encarnação poderei ser totalmente o oposto, além de renascer em uma família pertencente à nobreza das classes dominantes.
Todavia, vejo nesta hipótese, ainda, a manutenção da injustiça; pois, a plebe humilde, que preza as virtudes e combate os vícios, é, quase sempre, mais virtuosa que a elite que a domina e explora viciosamente. Assim, não creio que tendo feito parte da plebe em uma encarnação, na próxima poderei fazer parte da elite dominante; pois isto seria uma involução espiritual e, como a doutrina espírita bem deixa explicito, tal involução não ocorre com os espíritos. A existência, pura e simples, de uma única vida (uma única encarnação), como propalado por algumas religiões, salientaria ainda mais esta injustiça, pois não haveria a possibilidade do rodízio, tal como ocorre em uma dança das cadeiras; isto é, quem esteve em pé nesta existência, continuará eternamente em pé, não tendo a possibilidade de vir a sentar-se em uma próxima existência. Creio que me fiz entender…
A quarta dúvida que tenho se relaciona com aquilo que os filósofos chamam de Teodicéia; isto é, com a razão pela qual Você, todo poderoso e de bondade infinita, permite o sofrimento de Seus filhos. Reconheço que o ser humano sempre aprende pelo caminho mais difícil e que não viemos a este mundo para desfrutar de uma existência de total felicidade (como já diziam os filósofos Estóicos, Céticos e Cínicos, ao contrário dos filósofos Epicuristas que assim pensavam); pois, segundo minha convicção, está só seria destinada aos espíritos superiores e, assim mesmo, quando desencarnados. Reconheço também que o sofrimento humano é devido, conforme sabiamente afirmou Sidarta Gautama muito antes do nascimento de Jesus Cristo, aos anseios, aos desejos e aos apegos para a satisfação dos sentidos; ou seja, à realização das vontades do Ego, que prende o indivíduo ao ciclo das existências. Ao se eliminar o Ego, o sofrimento desapareceria. Todavia, segundo a concepção de vida que ora prevalece na sociedade terrena, o Ego é necessário para a evolução social do planeta e para que os Sistemas Políticos e Econômicos existentes sobrevivam e se expandam; isto é, os seres humanos precisam consumir cada vez mais, satisfazendo seus Egos, para que as indústrias e as empresas produzam, gerem empregos, paguem os impostos que custeiam as obras públicas, etc., etc., etc.
Vejo nisto uma contradição, que, certamente, Você já terá percebido muito antes do que eu. Como, todavia, permite que as coisas assim continuem a se desenrolar, não consigo atinar como deseja que todos nós venhamos a evoluir espiritualmente nesta existência se:
1. Para a evolução espiritual é necessário que as virtudes prevaleçam sobre os vícios e que os seres humanos se desapeguem dos desejos materiais, que os mantêm presos às existências encarnadas;
2. Para que os seres humanos possam sobreviver e se reproduzir, nos moldes em que a sociedade atual está estabelecida, certamente com o seu consentimento, é necessário que tenham um forte apelo consumista: isto é, que os indivíduos desejem cada vez mais bens materiais, para que as rodas da engrenagem política, econômica, psicossocial e militar continuem se movimentando, gerando empregos, pagando impostos, fazendo guerras, matando pessoas, construindo e destruindo; em suma, que através da prevalência dos vícios o Sistema continue a se expandir, permitindo que os espíritos continuem a ir e a vir, desta existência para outras e de outras para esta;
3. Como qualquer ser humano pode constatar as duas hipóteses anteriores são totalmente conflitantes; mas, estou certo de que existe uma razão para que assim seja e que eu é que não tenha conseguido percebê-la. Existindo esta razão, rogo para que, com respeito a ela, cientifique todos aqueles que pensam como eu, pois é muito ruim saber que devemos seguir pelo caminho indicado por Você e constatar que as autoridades que nos comandam exigem que sigamos pelo caminho por elas escolhido, totalmente diferente do Seu. O conflito gerado internamente, motivado por esta contradição, tem influído enormemente no aumento do stress, da depressão e dos distúrbios mentais das Suas criaturas, fazendo aumentar o consumo de bebidas alcoólicas e de substâncias químicas estupefacientes.
A quinta dúvida se refere aos cataclismos e aos grandes desastres, naturais ou não, que, periodicamente, afligem as populações do planeta, como as pandemias, e que alguns costumes antigos e algumas religiões afirmam haverem sido provocados por Você, pelo fato de nós, seres humanos, nos termos distanciado de Seus desejos e ensinamentos (parece que, na antiguidade, este foi o caso das cidades de Sodoma e Gomorra e do continente da Atlântida).
Creio que em qualquer população, de qualquer parte do mundo, existam sempre indivíduos cujos espíritos se encontram em diferentes graus de evolução (uns muito elevados, outros medianamente e outros, ainda, em estágios atrasados de evolução). Um cataclismo (terremoto, tsunami, erupção vulcânica, pandemia, etc.), por vezes, mata milhares de pobres indivíduos de uma só vez, destruindo, quase sempre, suas moradias, cidades e vilas. Uma queda de avião ou o naufrágio de um navio, por vezes, ceifa centenas de vidas em um único momento. Evidentemente que, nestes casos, muitos espíritos evoluídos, que já poderiam deixar esta existência, desencarnarão junto com espíritos ainda não evoluídos, que, talvez, ainda necessitassem aqui permanecer um pouco mais.
Embora saiba que tudo tem um propósito e que Você é fonte de amor e de infinita bondade, não consigo atinar sobre a necessidade de um efeito pirotécnico de tamanha magnitude trágica, para recolher, de volta à dimensão espiritual, aquelas almas cujo prazo de validade já vencera. Poderiam todos aqueles infelizes desencarnar no aconchego do lar, vítimas de um simples infarto, de uma súbita queda de escada ou de alguma moléstia grave; a não ser que Você busque na tragédia destes eventos, impor o medo sobre as pobres almas sobreviventes, alertando para a necessidade de respeitarem e temerem as coisas do além. Se, realmente, Você é o verdadeiro idealizador dos cataclismos e dos grandes desastres, procure selecionar melhor a ocasião, o local e os participantes. Como sugestão, poderia ser incluído um maior número de dominadores, como vítimas destes eventos, de modo a buscar suavizar um pouco mais a existência dos dominados.
A sexta dúvida está relacionada com a morte de crianças e bebês. A explicação religiosa e espiritualista para tal fato me afigura como tristemente pobre. Dizer que faltava muito pouco para que aqueles espíritos atingissem a necessária evolução e que eles retornaram a este planeta para completar o breve tempo que lhes faltava, é uma explicação que tenta desmerecer Sua onisciência e Sua onipotência.
É evidente que um pouco mais de vida em alguma das existências anteriores poderia proporcionar a evolução que faltava àqueles espíritos e evitar toda a dor dos pais e familiares enlutados destas crianças e bebês. Dizer que a morte prematura deles tinha por objetivo a evolução espiritual dos pais, me afigura como uma tortura psicológica, não condizente com a Sua tradição de amor incondicional. Creio, mesmo, que todos os seres humanos deveriam ter o direito de viver um determinado número de anos, igual para todos, de maneira a que os seus espíritos tivessem a mesma oportunidade de evoluir nesta existência. Em não sendo assim, muitos espíritos poderão questionar: – “Puxa vida, logo agora, quando eu estava evoluindo rapidamente, foram me chamar de volta”.
Creio que esta sugestão poderia ser levada em consideração e o assunto repensado com mais calma, já que decisões tomadas em sete dias (conforme rezam as escrituras) me afiguram como tempestivas para tão importantes temas, como estes aqui expostos.
Minha sétima dúvida diz respeito ao fato de, segundo algumas teorias religiosas, ao encarnar perdermos toda a consciência de nossas vidas anteriores. Como Você nunca se pronunciou sobre este assunto, de maneira categórica, diretamente para as suas criaturas, mas apenas mandou recados através de supostos representantes Seus, fica difícil para muitos de seus filhos entenderem quais os reais objetivos da Criação. É como receber um frasco de medicamento sem bula, quando não somos médicos: não saberíamos quando e como usar aquele remédio e para qual enfermidade serviria. Como sei que os remédios devem ser tomados com receita médica e que devo evitar a automedicação, acredito que o mesmo deveria se passar com relação à evolução espiritual. Os seres humanos deveriam ser informados, diretamente por Você, sobre quem haviam sido em outras vidas, o que Você espera deles nesta existência e como deveriam proceder para atender aos Seus desígnios para a vida deles. Caso contrário, ouvindo Seus desejos por intermédio de outras vozes, pode-se dar que sigam por um caminho totalmente oposto àquele por Você desejado, por haverem entendido mal a orientação de seus mestres ou por seus mestres haverem entendido mal a Sua orientação.
Por outro lado, se alguns resolverem seguir as próprias intuições e estas os levarem, também, para caminhos diferentes daqueles por Você planejados, não poderá jamais lhes imputar nenhuma culpa, pois, afinal, Você jamais lhes disse pessoalmente qual era o caminho que desejava que seguissem.
Minha oitava dúvida está relacionada ao fato de, segundo dizem e acreditam muitos, Você haver beneficiado com sua atenção e favores especiais alguns seres, em detrimento de outros. Novamente, me explico melhor: trata-se daquilo que diz respeito aos denominados ‘milagres’.
Inúmeros filósofos, muito mais sábios do que eu, meditaram sobre esta matéria anteriormente, e as conclusões a que alguns deles chegaram, como Você bem sabe, são apresentadas a seguir:
O filósofo e escritor Jean Marie Arouet, conhecido como Voltaire, em seu ‘Dicionário Filosófico’, afirma que: – “Segundo as ideias aceitas, os milagres seriam violações das leis matemáticas, divinas, imutáveis, eternas. Mediante essa exposição, o milagre seria uma contradição; já que uma lei não pode ser violada”. Voltaire afirma, ademais: – “Deus nada pode fazer sem razão, sendo impossível conceber que a natureza divina trabalhasse para algum homem, em particular, em detrimento dos outros; se constituindo a mais absurda das loucuras, imaginarmos que o Ser Infinito invertesse, em favor de alguns, o movimento dessas imensas molas que fazem mover o Universo inteiro. Assim, ousar supor que Deus realiza milagres é realmente insultá-lo (se é que os homens podem insultar a Deus), e desonrar de certo modo a divindade cxspondido: – “Tornar-me-ia Maniqueísta e diria que existe um principio que desfaz o que o outro fez”.
O filósofo Baruch Spinoza afirmava: – “Contra a natureza, ou acima da natureza, o milagre não passa de absurdo e Deus era mais bem conhecido graças à ordem e à necessidade da natureza do que por pretensos milagres”.
Alguns autores modernos especulam que, na impossibilidade da alteração de leis universais, imutavelmente por Você mesmo criadas, Deus atuaria, apenas, nos eventos probabilísticos. Assim, se um indivíduo tem grande probabilidade de contrair uma doença mortal, ou sofrer algum revés, Você poderia, em razão das súplicas e do merecimento deste, reduzir esta probabilidade, livrando-o completamente do mal.
A questão pelo visto continua e ainda continuará por muito tempo em aberto, na ausência de um pronunciamento oficial Seu, a respeito do assunto. O fato é que muitas religiões usam esta possibilidade para angariar prestigio e fortuna, em Seu nome.
As igrejas e o próprio espiritismo enfatizam para os seus adeptos a ideia do milagre, ou da ‘cura sobrenatural’ ou ‘mediúnica’, como forma de manter seus fiéis ou adeptos sempre vinculados àquelas instituições e aos seus sacerdotes, médiuns ou dirigentes.
A igreja católica chegou a criar centros onde tais milagres, supostamente, aconteceriam com certa frequência, como Lourdes (na França), Fátima (em Portugal) e Aparecida do Norte (no Brasil). As igrejas evangélicas fazem com que os supostos milagres, ocorram dentro dos próprios templos (com pastores fazendo supostas curas milagrosas, nos cultos ao vivo e naqueles transmitidos pela televisão, exorcizando os demônios dos fiéis); da mesma forma, o espiritismo também propicia supostas curas mediúnicas nos próprios centros espíritas.
Em um destes centros, em meu país, um médium que supostamente receberia o espírito de um médico alemão, está respondendo a dezenas de processos, cíveis e criminais, por lesões corporais graves, ocorridas em cirurgias mediúnicas, por ele realizadas em frequentadores do centro espírita onde atua, com a utilização de facas e tesouras não esterilizadas.
Em minha modesta opinião creio que, com Sua onisciência, saberá das necessidades evolutivas e das aflições e sofrimentos de todas as suas criaturas e estou convencido de que os pedidos que, eventualmente, algumas Lhe dirijam, não deverão ser suficientes para alterar todo o planejamento para elas efetuado, prévio à encarnação e elaborado ainda na dimensão etérea, visando à evolução espiritual daquelas criaturas.
A nona dúvida que tenho refere-se à questão do Livre Arbítrio e do Determinismo. As religiões usualmente adotadas no Ocidente afirmam que todos os seres humanos possuem Livre Arbítrio, enquanto as religiões adotadas no Oriente reafirmam o Determinismo da existência humana. Da mesma forma, as correntes filosóficas e os filósofos não têm uma posição unânime sobre o assunto.
Com respeito ao posicionamento dos homens de Ciência terrestres, sobre o tema do Livre Arbítrio versus Determinismo, o pensamento científico, de uma maneira geral, como Você também já sabe, vê o Universo de maneira determinística, e alguns pensadores científicos creem que para predizer o futuro é preciso, simplesmente, dispor de informações sobre o passado e o presente. A crença atual, entretanto, consiste em uma mescla de teorias determinísticas e probabilísticas.
Como Você pode ver o nosso conhecimento científico, filosófico e religioso ainda é muito precário com relação a este assunto, que é de fundamental importância para a nossa evolução espiritual. As opiniões se dividem e, na ausência de uma manifestação direta Sua, a respeito do tema, os seres humanos ficarão, eternamente, oscilando entre um e outro conceito, sem saber, ao certo, qual deles é o verdadeiro.
Por último, minha décima dúvida, diz respeito à razão pela qual Você tem permitido, ao longo da História, que suas criaturas sejam todas lideradas e comandadas não pelos indivíduos mais virtuosos e bem intencionados, mas, sim, pelos mais espertos e oportunistas. Se Você, pai amoroso, tem como objetivo para as Suas criaturas, nesta existência, a evolução através do sofrimento, compreendo que possa estar absolutamente certo.
Entretanto, se for outro o objetivo desejado para nós, creio que algumas atividades, de maior relevância perante o Universo, têm ocupado Seu tempo e desviado o foco de Sua onisciência com respeito às Suas criaturas. Longe de mim qualquer crítica ou sentimento de revolta pela forma como nós, Suas criaturas, somos encaminhados do plano etéreo para desfrutarmos uma nova existência neste planeta. Na suposição de que existam novas existências em outros mundos ou em outras dimensões, espero que eventuais erros ou omissões, que porventura tenham escapado a Sua onisciência, e que possam ter ocorrido na vida humana transcorrida neste planeta, tenham sido corrigidos nestes demais mundos e dimensões, existentes pelo vasto Universo por Você criado.
Enquanto aguardo com tranquilidade o vencimento do meu prazo de validade (ocasião em que será, sem dúvida, providenciada a minha partida para a dimensão etérea), fico no aguardo de alguma orientação Sua sobre como devo proceder, até lá, para a obtenção da máxima evolução espiritual possível nesta minha vida atual.
Do seu filho e admirador agradecido,
Alguns dias depois de ter escrito esta carta aberta, recebi, em minha caixa de Correio, sem remetente e sem selo, a seguinte mensagem dentro de um envelope comum. Em um bilhete separado, no mesmo envelope, alguém se identificando como médium disse haver psicografado aquela mensagem a mim dirigida, já que o Criador, mais uma vez, não se manifestou pessoal e diretamente sobre a minha missiva:
Meu querido e rebelde filho; recebi sua carta e aproveito um momento de repouso (após uma estafante semana transcorrida a mediar conflitos, de ordem material e espiritual, que ocorrem em todos os momentos, entre aqueles seres frutos da minha criação, neste vasto Universo), para responder as suas dúvidas e indagações.
Querido filho, de início, lhe informo que nunca tive preferências por nenhuma das minhas criaturas. Deferências para com algumas, sim, pode ser que tenham ocorrido; mas foram devidas apenas àquelas que primeiro criei. Explico-me melhor: quando dei início ao processo de criação, nem eu possuía a experiência necessária de pai, nem as criaturas que criava possuíam a de filhos. Todos nós estávamos começando do zero. Em razão disto, é evidente que eu me apegasse mais àquelas criaturas que criei em primeiro lugar. Isto não significa, entretanto, que eu goste menos daquelas que vieram depois.
Relativamente a sua primeira dúvida, informo que, realmente, ao longo da história humana, muitos boatos inverídicos e crendices foram e são propalados com o intuito de me incompatibilizar com as minhas criaturas. Uma destas crendices é de que basta me chamar, a qualquer hora do dia ou da noite, para que eu imediatamente venha à presença daquele que me chamou. Ora, todos os filhos possuem os genes dos pais; meus genes estarão sempre com vocês (esta é a verdadeira onipresença que me atribuem), não significando isto que eu necessite estar fisicamente ou mesmo espiritualmente ao lado de minhas criaturas quando invocado, até porque sou também requisitado, ao mesmo tempo, por outras criaturas em outros mundos e em outras dimensões. Não possuo preferências por povos, raças religiões ou sexos, pois não vejo meus filhos sob estas óticas. Tais distinções a exceção daquela referente aos sexos, foram por vocês mesmos estabelecidas. Eu, como você inteligentemente supôs em sua carta, criei todos os seres, inclusive o homem e a mulher, no mesmo instante. Com esta afirmação, espero haver esclarecido, definitivamente, o dilema que tem afligido a todos desde a origem dos tempos e que se resume em: “quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?”.
Com relação ao fato de as minhas criaturas serem dominadas ou dominantes, esclareço que esta, também, é uma distinção estabelecida pelas próprias criaturas. As razões pelas quais vocês se estruturaram desta forma, com certeza, foram as mais variadas: aptidão natural e/ou elevado nível intelectual de alguns para mandar, decidir e comandar; vocação natural e/ou reduzido nível intelectual de outros para serem comandados e obedecer; maior esperteza, ganância e orgulho de alguns que, iludindo aos demais, conseguiram obter vantagens sobre estes; necessidade de uma liderança para conduzir a todos os demais em segurança pelos caminhos da sobrevivência em um meio inóspito, etc. O que pretendo deixar bem claro é que eu, embora onisciente e onipotente, também não tenho todas as respostas. Outra vez me explico melhor: minha onisciência me permite saber o que minhas criaturas fizeram, mas não aquilo que ainda irão fazer. Neste particular, vigora o Livre Arbítrio de cada uma. O Determinismo, que também existe, diz respeito às grandes linhas de comportamento, ao planejamento geral evolutivo de cada criatura. Vários são os caminhos que conduzem ao objetivo previamente determinado e o Livre Arbítrio permite à criatura escolher qualquer um deles. Os seres espirituais não têm prazo para evoluir. Alguns caminham mais rapidamente, outros mais devagar; uns necessitarão de muitas encarnações, outros de poucas. Saiba, entretanto, que todos terão as mesmas e infinitas oportunidades, necessárias para concluir a evolução requerida. Para que? Não me pergunte isso agora, pois, com certeza não entenderia a minha resposta.
Com respeito ao esquecimento sobre as vidas passadas, o que tenho a dizer é que cada existência é única; isto é, embora a evolução espiritual seja acumulativa, a evolução física jamais poderia ser, pois o espírito em busca da evolução deve, infinitamente, habitar em vários corpos e viver em vários mundos e dimensões diferentes. Após inúmeras encarnações em vários corpos e em locais diferentes, a lembrança destas vidas causaria enorme confusão na mente do ocasional corpo hospedeiro do espírito. Imagine quem já foi belo vivendo com uma nova aparência feia, quem já foi rico e poderoso vivendo como pobre e humilde e quem foi saudável vivendo doente. O sentimento que teriam seria de revolta e de inconformismo com a nova situação. Para que uma existência anterior não venha a prejudicar a seguinte, o véu do esquecimento é colocado sobre todas as criaturas, tão logo encarnam. Por outro lado, o conhecimento da realidade das múltiplas existências poderia ter um efeito perverso em algumas criaturas, qual seja o de abandonarem por iniciativa própria aquela atual vida, na qual não se julgavam satisfeitos, esperando voltar futuramente em uma melhor situação. Existem aspectos do fenômeno vida e morte que não podem ter sua realidade conhecida pelas criaturas, sob a pena de influenciar, para o bem ou para o mal, seus desempenhos quando encarnados.
Pense na coisa como se fosse um jogo de adivinhação no qual você, antecipadamente, conhecesse a resposta. Qual a graça em jogar tal jogo?
Quanto aos cataclismos, às pandemias e aos grandes acidentes, informo que nada tenho a ver com eles. São eventos que ocorrem ou espontaneamente, em razão de acomodações geológicas, ou são provocados por falhas humanas, materiais ou até mesmo propositadamente, como parece ter sido está atual pandemia que assola o planeta. Acusar-me de estar por detrás destes episódios é má fé ou o desejo de esconder responsabilidades. O que deve ficar bem claro é que eu não posso ser responsabilizado por tudo aquilo que ocorre de, supostamente, errado na vida das criaturas. Todo aprendizado implica em erros e acertos ou, como você muito bem explicou, as criaturas evoluem dialeticamente. Assim, vocês acertam e erram por vocês mesmos. Não me envolvam nesta questão.
Relativamente à morte de crianças e bebês, são também válidas as considerações anteriores, além de outras mais. Independentemente daqueles que morrem em decorrência de erros de diagnóstico médico, da falta de cuidados higiênicos dos pais, da eventualidade de acidentes imprevistos e inevitáveis, outro fator tem contribuído para tais casos. Trata-se do fato da proliferação descontrolada de minhas criaturas, talvez fruto do esgarçamento do tecido social que conduz a perda de valores morais. O fato é que as criaturas nunca se multiplicaram tanto como na atualidade. Ora, as espécies animais e vegetais que criei devem viver em harmonia no planeta, de forma autosustentável. Quando uma espécie vegetal se multiplica demasiada e descontroladamente com relação às demais (como quando se cultiva grandes áreas de terra com uma só espécie vegetal), surgem pragas agrícolas para reduzi-la, como um mecanismo da Natureza em busca do equilíbrio. Com os seres humanos, que se multiplicaram demasiada e descontroladamente com relação às outras espécies animais, ocorre o mesmo. As doenças humanas, motivadas por vírus e bactérias, são como as pragas agrícolas e objetivam manter um controle biológico sobre a proliferação das criaturas. Isto não quer dizer que não exista uma indústria de vírus e de vacinas, com objetivo de auferir lucros; bem como a guerra biológica, com objetivo de dominação.
Estes vírus e bactérias atacam mais as crianças e bebês, por serem mais vulneráveis às suas ações, ações estas que objetivam reduzir a natalidade e o crescimento das populações humanas. Mais uma vez afirmo: – nada tenho a ver com isto, embora saiba que alguns destes vírus estejam sendo criados em laboratórios, com a finalidade de reduzir, de maneira mais rápida, a população do planeta. Volto a dizer que nada tenho a ver com isto, mas reduzam a taxa de natalidade, pois o planeta não comporta uma espécie de tamanha magnitude e preservem as outras espécies antes que elas se extingam. Sei que alguns irresponsáveis são contra o controle da natalidade, mas a proliferação descontrolada acabará por inviabilizar a vida humana no planeta. Ao contrário do que alguns afirmaram em meu, nome no passado, vocês não foram colocados aí, apenas, para crescer e se multiplicar descontroladamente, mas para evoluir espiritualmente.
Com respeito a beneficiar algumas criaturas de modo especial, em detrimento de outras (aquilo que você denominou de milagre em sua carta aberta), informo-lhe que jamais o fiz. O processo de criação do Universo requereu, da minha parte, a criação de tantas e imutáveis Leis Físicas, Matemáticas, Químicas e Biológicas, objetivando a que o mesmo permanecesse em equilíbrio estável, que a suspensão de alguma destas Leis, visando a beneficiar quem quer que fosse, poderia proporcionar um efeito desestabilizador no sistema, que acabaria por fazer ruir todo este Universo que construí com muito esforço, dedicação e carinho, e que espero dure para sempre.
Quanto a colocar como elites dominantes as mais espertas, levianas, egoístas, desumanas, aproveitadoras e malignas criaturas; creio que este é um problema que diz respeito, exclusivamente, a vocês. Milhões de seres humanos apenas se interessam por coisas frívolas e fúteis, não demonstrando o menor interesse por assuntos de ordem política, por aprender e evoluir. Ora, aproveitando-se disso, criaturas mais espertas apresentam-se como pastores, aptos a conduzir aqueles pacíficos rebanhos para a tosquia ou para o matadouro. Se eu interferisse neste assunto, vocês perderiam uma boa oportunidade de aprender, por si mesmo, a conduzir os seus destinos com sabedoria. Por esta razão, não me envolvo e jamais me envolverei neste assunto. Que fique bem claro para você, que os seres humanos não são fruto do acaso, pois o acaso só existe nos exemplos citados pelos professores nas aulas de Teoria das Probabilidades, quando dizem aos seus alunos: – “Jogando-se um dado ao acaso, qual é a probabilidade de sair um seis?”
Ao criar os seres humanos (que não possuem minha imagem e semelhança, posto que em outros mundos e em outras dimensões criei seres diferentes de vocês e que também carregam consigo o meu DNA) e conduzi-los para uma existência no planeta Terra, tive por objetivo proporcionar-lhes uma escola de aprendizado, voltada, tão somente, para a evolução espiritual. Todavia, nenhum professor pode fazer muito se seus alunos não quiserem aprender. O aprendizado depende mais da vontade do aluno do que do esforço do professor. Quem deseja mesmo aprender, acaba por transformar-se em um autodidata. Assim, as reclamações que minhas criaturas apresentam, como sendo devidas à minha incúria, são devidas, na verdade, ao comodismo, à preguiça e à falta de interesse destas próprias criaturas, com relação ao aprendizado necessário para sua evolução.
Embora eu não haja criado nenhuma religião, algumas delas passaram perto daquilo que eu reputo como o conhecimento da Verdade; isto é, a resposta àquelas três perguntas que todos vocês fazem sempre que se encontram deprimidos ou filosofando. Alguns filósofos, também, intuíram alguma coisa sobre quem são vocês, de onde vieram e para onde vão. O que posso adiantar a respeito (e que talvez contribua para lhe tranquilizar) é que, primeiramente, o espírito é imortal e tem por objetivo a evolução. Em segundo lugar, ele não tem prazo para evoluir, traçando o seu próprio caminho evolutivo através dos tempos. Em terceiro lugar, por mais que alguns seres humanos distorçam a finalidade da criação e o objetivo das criaturas, o fato é que a riqueza, o poder, o prestigio, a saúde, a beleza física, etc., não representam a finalidade pela qual vocês ai se encontram, não duram para sempre e não podem ser levados para o etéreo junto com o espírito. A criatura levará, apenas, aquilo que aprendeu quando encarnada. Lembre-se que evoluir é uma característica individual, que ninguém pode processar pelo outro, muito menos eu que os criei.
Com relação ao conflito, por você levantado, entre a necessidade de eliminar o EGO para a evolução espiritual e a necessidade de conservar o EGO para a evolução dos Sistemas Econômicos, Políticos, Psicossociais e Militares, gostaria de ressaltar que ambas as coisas poderiam ocorrer, desde que fossem mais planejadas por elites bem intencionadas e desprovidas de ganância, de egoísmo, de orgulho, de soberba, etc. Explico-me melhor: se vocês, minhas criaturas, fossem chefiadas por autoridades virtuosas e bem intencionadas, que tivessem como única preocupação conduzir bem os seres humanos no rumo da evolução espiritual, certamente haveria um meio termo em que as populações poderiam conviver em um Sistema Econômico sustentável, com baixo consumo ambiental, sem desperdício e com preservação da natureza. Neste sistema o Ego poderia vir a ser, não digo eliminado; mas, sensivelmente reduzido, permitindo uma tranquila evolução do espírito. Conseguir isto só depende de vocês, pois eu, como já disse anteriormente, jamais interferirei no aprendizado de minhas criaturas.
Finalmente, gostaria de lhe dizer da imensa saudade que nutro por você, em especial, e que, como você possui boas ideias e vejo que está do meu lado e do seu presidente (pois ambos me colocam sempre “acima de tudo”), querendo ajudar, gostaria muito de conversar pessoalmente com você qualquer dia desses. Vá-se preparando…
Papai