█ O Brasil e o Antagonismo Internacional

Pinto Silva Carlos Alberto[1]


1. GENERALIDADES


A luta pelo Poder continua real e verdadeira no nosso mundo globalizado. Poder geopolítico das nações pressupõe potenciais econômico e estratégico militar. Países se movimentam conforme seus interesses e obtém sucesso em função de sua capacidade e vontade de exercer Poder.


Nas relações internacionais a função do Poder é fazer prevalecer o interesse nacional de um Estado sobre o dos outros. 


Como exemplo, citamos a existência de dois consensos fundamentais, na elite americana, seja Republicana ou Democrata.


“Os EUA trabalham para manter sua liderança econômica e militar dentro do sistema mundial,[2] e não podem deixar de financiar a expansão global permanente da infraestrutura indispensável ao exercício do poder.”


É possível divagar que a estratégia americana seja a de desconstrução dos velhos parâmetros ideológicos e de questionamento das antigas alianças e lealdades, sem considerar que o sucesso ou o fracasso de um Estado é determinado pela sua habilidade em fortalecer alianças e fazer amigos.


De acordo com Hal Brands, o “conflito na zona cinza é uma atividade coercitiva e agressiva por natureza, mas deliberadamente concebida para permanecer abaixo dos limites de um conflito militar convencional”. Ou seja, “a Zona Cinza se caracteriza por uma intensa competição política, econômica, informacional e militar, mais acirrada que a diplomacia tradicional, porém inferior à guerra convencional”.


Os EUA usam sanções econômicas e atividades militares não sinérgicas como a vanguarda dos “conflitos de coexistência”. Estes conflitos são permanentes, embora permanecendo subjacentes, notadamente em tempo de crise, mas também em tempo de paz.


É o uso inteligente da gama completa de ferramentas à disposição de uma Nação, um jogo de três padrões de Poder ou três tabuleiros de disputa política internacional, e a combinação e integração deles, para cada situação[3]:


     – Poder Militar (Unipolar/ Hegemônico).

     – Poder Econômico (Multipolar).

     – Poder Difuso (Atores não estatais e novos problemas transnacionais: pequenos grupos com grande poder e lealdade sega a causa, terrorismo, crime organizado com objetivos políticos, proliferação de armas de destruição em massa).


Em matéria de Relações Internacionais os atores são múltiplos, não os considerar pode conduzir a um “paradoxo”: um sucesso com sanções econômicas, com o uso de medidas militares não cinéticas ou a coerção militar direta pode acarretar uma derrota final, ele pode ser suscetível de gerar novos inimigos e então inverter o balaço de potencial.


Portanto, não é somente “O outro”, mas sobretudo “Os outros” que a grande estratégia deve levar em conta. É preciso desencorajar o opositor, e não o levar à radicalização. É preciso manter os neutros na sua neutralidade, ou mesmo tentar fazê-los aliados, mais jamais inimigos. É preciso reforçar a fidelidade dos aliados. Ações diplomáticas podem ter sobre os “outros” efeitos psicológicos tão importantes quanto das armas, ações psicológicas, ou sanções econômicas.


Com isto entende-se a grande estratégia deverá ter efeitos psicológicos convincentes sobre os dirigentes de outros Estados, que concentram a vontade e a inteligência das nações que representam, a fim de que eles não façam, ou não façam mais, obstáculos à realização do nosso projeto político.


2. BRASIL – UMA ESTRATÉGIA DE SUPERAÇÃO


O surgimento de uma potência regional emergente, como o Brasil, é sempre um fator de desestabilização, insatisfação e reação do sistema mundial, porque sua ascensão ameaça o monopólio das potências estabelecidas.


Nesse possível enfrentamento o Brasil deve adotar “A Estratégia Indireta”. “Aprendamos a sobreviver na ‘paz’ e a salvar o que dela nos resta. Aprendamos a estratégia indireta.”[4]


O método indireto usa qualquer uma das Ferramentas à disposição do Poder Nacional, à exceção do militar, para persuadir ou coagir o adversário a aceitar uma solução do conflito; a Expressão Militar contribui de forma complementar, já que o Poder Nacional é indivisível.


Basicamente emprega Conflito na Zona Cinza:


– Persuasão – Meios Diplomáticos e Jurídicos;

– Coerção – Meios Políticos, Econômicos e Psicossociais.


A Estratégia Indireta é: “A arte de saber explorar, ao máximo, a estreita margem de liberdade de ação que escapa da dissuasão pelas armas e conseguir sucessos decisivos, apesar da limitação, por vezes extrema, dos meios militares que podem ser empregados.”


É preciso uma linha política ofensiva. É necessário notar que uma linha política defensiva teria um fraco valor de dissuasão, porque a chave da dissuasão é a aptidão de reagir a ameaça.


Outro elemento do prestígio dissuasório é estabelecer a credibilidade da nossa capacidade e vontade de agir, economia forte e posse de uma doutrina militar dinâmica, portanto rejuvenescida, poderá conduzir a um bom resultado.


A reação do Brasil deve ser rigorosamente calculada. Pode, como gesto de advertência, exercer uma ação progressiva quando perceber uma grande necessidade de estabelecer uma reputação de país que se mostra firme e decidido na defesa de seus interesses nacionais de segurança, mantendo, contudo, a estabilidade de crise.


Enfim, o prestígio resulta, em parte, do respeito que se pode inspirar. Sobretudo com relação às nações do NORTE, a “cara” representa um papel considerável.


3. CONCLUSÃO


A principal preocupação estratégica do Brasil é, inexoravelmente, relacionada à economia. A capacidade interna do país de conseguir realizar as mudanças estruturais necessárias, e o crescimento econômico permitirão o aumento de dois dos padrões de Poder (Militar e Econômico).


 A correta execução de ações de interesse nacional e global, será, também, fator positivo na construção de uma política externa brasileira autônoma de potência regional.


A busca pelo Brasil por mais autonomia nas relações internacionais deve ter em conta seus interesses estratégicos e não pode prender se as estratégias geopolíticas de outros Estados, com o risco de comprometer seu objetivo precípuo qual seja, o aumento da autonomia na sua inserção política internacional.



[1] Carlos Alberto Pinto Silva / General de Exército da reserva / Ex-comandante do Comando Militar do Oeste, do Comando Militar do Sul, do Comando de Operações Terrestres, Ex-comandante do 2º BIS e da 17ª Bda Inf Sl, Chefe do EM do CMA, Membro da Academia de Defesa e do CEBRES.

[2] https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-11042018000700010

[3] Joseph S. Nye, Jr.

[4] André Beaufre.

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