Na primeira parte deste artigo, alertamos os nossos leitores do risco de decepção, por não ser possível resolver os graves problemas brasileiros em curto prazo, já que o Governo do Presidente Bolsonaro enfrentará grandes dificuldades e sofrerá sérias ameaças das forças derrotadas politicamente. Alertamos, também, da ameaça representada pela possível eleição para as Presidências da Câmara e do Senado de dois representantes clássicos da velha política, totalmente rejeitada pelos eleitores que sufragaram Jair Bolsonaro em outubro do ano passado.
No Senado Federal, um esforço muito bem desenvolvido evitou a eleição de Renan Calheiros, que sem dúvida criaria grande dificuldade para o Governo. Infelizmente, na Câmara dos Deputados, permitiu-se a vitória de Rodrigo Maia, que já começou o jogo retórico de dizer apoiar as reformas, mas apresentar pequenos contratempos, atribuindo-os à falta de coordenação do Governo. É possível que a Reforma da Previdência seja aprovada, ainda que desfigurada, mas as demais pautas-compromisso do Presidente da República encontrarão, no Presidente da Câmara, uma enorme barreira. Esperamos que o Presidente Bolsonaro consiga demoli-la com seus carisma e prestígio.
Na Segunda Parte, advertimos de que o Supremo Tribunal Federal, infiltrado por militantes políticos indicados por governos ideologicamente comprometidos, e o Congresso Nacional, ainda contaminado por políticos corrompidos e corruptores, oriundos da já citada velha política, poderiam representar séria ameaça aos objetivos programáticos do novo Governo.
Vamos, agora, abordar o risco de cair-se em algumas armadilhas colocadas pela oposição de esquerda e, infelizmente, também, por alguns membros do próprio Governo.
Tem sido, insistentemente, apresentada a reforma previdenciária como sendo o maior, o mais importante, senão, o único verdadeiro compromisso do Presidente Bolsonaro. Parece claro, que, se não for conseguida a tal Reforma, ou se ela sair muito diferente da proposta governamental, isso será apresentado como o fracasso total do Governo, que não teria logrado “o único objetivo, para o qual fora eleito”.
Em verdade, o Presidente não se elegeu para fazer a Reforma da Previdência. Ele foi eleito para resolver a grave crise política, econômica e social, criada pelos governos de esquerda que infelicitaram o País por pouco mais de duas décadas. Foi eleito, também, para implantar a chamada pauta conservadora, que inclui a criminalização do aborto; a liberação do porte de armas para os cidadãos honestos; o fim da corrupção de nossas crianças com kits gays e ideologia de gênero, por exemplo; o combate à criminalidade e o fim da opção preferencial dos Direitos Humanos pelos criminosos; a dimi-nuição da menoridade penal; o banimento do politicamente correto da esquerda, o fim da infiltração ideológica nas universidades; o controle da corrupção, mantendo-a em níveis suportáveis; a recuperação das Forças Armadas e o resgate dos Militares, respectivamente, enfraquecidas e desgas-tados pelos governos do PSDB e do PT, e por políticos adesistas.
Como se vê, a Reforma da Previdência é, apenas, um item do combate à vertente econômica da crise. Será um erro grave deixar reduzir-se o Governo a uma única bandeira.
Os eleitores do Presidente Bolsonaro sabem muito bem o que querem e não levam em consideração as campanhas explícitas orquestradas contra o Governo, como acusações isoladas de eventuais supostas corrupções, contradições em declarações de membros do Governo ou demissões de Minis-tros. Nada disso fará o governo perder apoio, desde que permaneça fiel a seus compromissos de campanha.
Tentar conseguir a simpatia dos adversários, fazendo-lhes concessões, é a pior opção. Não conseguirá novos adeptos nas hostes adversárias ou inimigas, mas, certamente, perderá os amigos e os aliados antigos e tradicionais. Por isso, preocupa-nos muito ver agentes do governo defendendo a Reforma da Previdência com a alegação de que “terminará com a injustiça de tirar dinheiro dos pobres para pagar a aposentadoria dos ricos” e que acabará com os privilégios dos que “trabalham muito pouco e aposentam-se muito cedo, ganhando muito mais”, em benefício dos que “trabalham muito e aposentam-se muito tarde, ganhando muito pouco”. Isso nada mais é do que estimular a abominável luta de classes e a divisão entre “nós e eles”, criadas pelos esquer-distas. Se as considerávamos condenáveis, quando usadas pela esquerda, por que nós mesmos haveríamos de empregá-las? Parece que nos querem fazer crer que os responsáveis pela falência do Estado não foram os governos esquerdistas, mas os funcionários públicos, os juízes e os militares.
Só está faltando chamá-los de burgueses! Em certos momentos, essa situação chega a nos lembrar da Revolução dos Bichos, de George Orwell.
A Reforma da Previdência tem de ser defendida com o argumento de que ela é necessária, indispensável, mesmo, porque os governos petistas quebraram o País e todos nós teremos de nos sacrificar para cobrir o déficit.
Com relação ao Sistema de Proteção dos Militares, não se pode ser responsável pelo déficit de uma instituição a que não se pertence. A fúria com que insistem em apreciar suas alterações junto com as da previdência social tem, como primeiro objetivo, vender a ideia de que não são coisas distintas, passando a tratá-los sempre em conjunto, aproximando, cada vez mais, um da outra, até que haja a fusão total.
Comenta-se que serão mantidas a paridade e a integralidade, aumen-tado o tempo de contribuição dos militares de 30 para 35 anos, aumentada a porcentagem da contribuição e ampliado o universo dos contribuintes, com a inclusão das pensionistas. Coitadas das viúvas, que sofrerão o confisco e parte de suas pensões, pelas quais já pagamos a vida inteira. O aumento do tempo de contribuição não existe, pois os militares contribuem mesmo na ina-tividade. O que aumentará será somente o tempo de permanência em serviço ativo. Dependendo de como sejam planejadas as carreiras, poderá ser uma coisa boa ou não. E a paridade e a integralidade? Até quando serão mantidas?
Os atos não se esgotam quando praticados. Eles costumam projetar consequências que, às vezes, só aparecem muitos anos depois. Neste caso, o risco é de que os militares venham a ser incluídos no regime geral da previdência em um governo futuro, quando ninguém mais esperar por isso.
Têm sido recorrentes os textos que indagam o que teria sido feito com os ativos do Montepio da Família Militar. Seria bom que a equipe econômica nos dissesse onde foi parar todo esse dinheiro. Quem sabe, em vez de contribuir, devêssemos receber alguma devolução.
Seja como for, nesse pouco tempo de governo, os resultados têm sido muito bons. Ficar criticando, uma a uma, todas as ações do Governo, até as menos relevantes, como vem fazendo a oposição, é muito negativo, e jamais deveríamos praticá-lo nós mesmos. O que querem é paralisar a administração do Presidente Bolsonaro, como fizeram com a do Presidente Temer.
Cabe-nos defender o Governo, que é a única opção antes do caos, e pugnar por nossas conveniências, sem colocá-las acima dos interesses maiores da Nação, mas mantendo-as a salvo das manobras revanchistas de curto e longo prazos de políticos remanescentes das velhas ideologias e de seus bajuladores, mesmo se infiltrados entre os aliados.
Confiamos em que o Presidente Bolsonaro saberá neutralizar todas essas tendências, para bem cumprir o papel que lhe reservou a História.
O autor é Coronel-Aviador, Presidente da Academia Brasileira de Defesa, Vice-Presidente do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos e Membro do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil.