Logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, da qual o Brasil participou, ao lado dos USA, no Teatro de Guerra Europeu, com uma Força Expedicionária e com um Grupo de Aviação de Caça, além de efetuar operações de combate a submarinos do eixo e de promover a escolta de navios mercantes, efetuadas pela Marinha de Guerra nas costas brasileiras banhadas pelo Oceano Atlântico, no plano interno, com a volta dos nossos militares que haviam combatido uma ditadura nazi fascista, surgiu no estamento burocrático brasileiro (Segundo Raimundo Faoro, o estamento burocrático comanda o ramo civil e militar da administração e, dessa base, com aparelhamento próprio, invade e dirige a esfera econômica, política e financeira) um espírito de patriotismo até então inexistente.
Naquela ocasião, em contribuição ao esforço de guerra brasileiro e ao início do Plano Marshall de reconstrução da Europa e do Japão, destruídos pela guerra, o nosso país também se beneficiou da ajuda técnica norte americana, tanto em sua industrialização nascente, como em ajuda financeira.
Foi nesta época que surgiram diversos organismos estatais que, se por um lado abrigaram muitos ex combatentes desmobilizados, por outro tinham por missão promover o desenvolvimento em setores carentes da economia e realizar obras de infraestrutura necessárias ao nosso progresso econômico-social, eliminando pontos de estrangulamento e promovendo obras de infraestrutura.
Data desta época o surgimento do BNDES. Muito já se escreveu sobre o papel do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, como agente promotor do desenvolvimento brasileiro. Criado em 1952, desde então, tem prestado inestimáveis serviços à Economia Brasileira no que se refere à definição de prioridades setoriais de investimento e no financiamento a projetos geradores de emprego e renda. Por suas instalações, gabinetes e corredores já transitaram mentes brilhantes e iluminadas, responsáveis por importantes decisões patrióticas e nacionalistas que mudaram a face do nosso país.
As novas empresas públicas criadas, as fundações, os organismos da administração direta e indireta, os ministérios, possuíam, naqueles idos, em seus quadros administrativos, profissionais concursados que, verdadeiramente, vestiam a camisa do Brasil e eram ferrenhos patriotas. Era a época de slogans nacionalistas como “o Petróleo é nosso!”, aproveitado, logo a seguir, pela esquerda como veremos adiante.
Os USA, preocupados em desenvolver a Europa e o Japão, para impedir a entrada do comunismo naquelas regiões ricas em recursos humanos, mas empobrecidas materialmente em virtude da guerra, pouca importância histórica concedeu ao continente sul americano, que viam como uma região produtora de alimentos e de matéria prima, com um povo de origem ibérica pouco afeito ao trabalho, desorganizado e com um entendimento acerca da honestidade muito flexível.
De qualquer forma, este estamento administrativo brasileiro, surgido após a guerra, transformou-se em uma tradicional barreira aos desmandos das sucessivas administrações políticas que se alternavam de quatro em quatro anos.
Os dirigentes dos organismos estatais, indicados pelos políticos eleitos, pouco podiam exorbitar em suas funções, seja desviando recursos públicos, seja nomeando parentes para cargos bem remunerados na administração; em virtude das admissões se darem por concurso público e em razão de que os projetos com dinheiro público só andavam se houvesse o ‘de acordo’ do estamento burocrático do Estado. Era este estamento que fazia as coisas acontecerem e tratava-se, felizmente, de um estamento patriótico e nacionalista. Projetos para serem implantados tinham que ser bons para o país e não, apenas, para que os seus mentores e idealizadores ganhassem dinheiro fácil, como ocorreu na atualidade recente dos governos de esquerda.
Mas, o tempo passou e o concurso público deixou de ser a única forma de ingresso no estamento burocrático do Estado, dando início às sinecuras, aos nepotismos, aos apadrinhamentos. Surgiram os chamados ‘aspones’, assessores de autoridades, normalmente seus familiares, parentes ou amigos, sem nenhuma missão específica, apenas para ocuparem um emprego que lhes renderia mensalmente substancial quantia financeira.
Com a assunção do Partido dos Trabalhadores ao poder e dos demais partidos de esquerda, que compunham a base do governo em troca de dinheiro, como ficou bem evidente no episódio do mensalão denunciado pelo deputado Roberto Jefferson, o estamento burocrático do Estado, nos três poderes da república, foi, aos poucos, sendo aparelhado por militantes partidários e ativistas políticos, todos eles admitidos sem o devido e tradicional concurso público.
Fazendo aqui uma pausa, uma breve digressão deixa patente que aquele que faz um concurso público para determinada função pública, normalmente, pretende ali fazer sua carreira. Possui, via de regra, um vínculo com a instituição e com o país, querendo, sempre, o melhor para ambos. Alguém guindado a uma função pública unicamente por vínculos políticos, além de não possuir nenhuma afinidade com a instituição, sabe que ali permanecerá por pouco tempo. Seu vínculo de fidelidade é com o político que lhe arranjou aquela sinecura e não com a instituição ou com o país.
Ocorre, ainda, que os funcionários concursados, por se considerarem praticamente ‘donos’ daquela repartição do Estado, costumam ser ferrenhos nacionalistas e, como tal, são campo fértil para ideologias como a marxista, que defende a expropriação dos meios de produção capitalista e a sua entrega aos trabalhadores, explorados pelos burgueses capitalistas internos e externos. Explico-me melhor: O estamento burocrático estatal brasileiro sempre teve uma tendência contra os USA, país capitalista rico e poderoso militarmente que, após a guerra, passou a ser visto como inimigo do Brasil por, supostamente, desejar se apropriar dos nossos recursos naturais e minerais. Ocorre, ainda que os norte-americanos eram muito orgulhosos de sua condição de principal potência mundial, fazendo crer aos brasileiros e aos sul americanos, em geral, que aquela forma de agir se tratava de simples prepotência e de menosprezo para com os chamados ‘cucarachas’, termo usado pelos próprios sul americanos para se auto definirem.
Assim, o grande inimigo e vilão da América do Sul passou a ser considerado os USA. A ideologia marxista, por isto, penetrou neste estamento administrativo nacionalista com muita facilidade, ao tentar fazer crer que, para os países sul americanos do chamado Terceiro Mundo, adotar o marxismo como forma de governo seria a única forma de obter a independência econômica dos USA. Esqueceram de dizer que por detrás da implantação do marxismo, haviam nações poderosas como a Rússia e China, que também almejavam nossas riquezas naturais e minerais e que, simplesmente, se propunham substituir os USA como nossos eventuais feitores.
Os episódios referentes ao Movimento Militar de 1964, que tentou impedir a esquerda de implantar o comunismo no Brasil, apoiada e financiada por Cuba, China, Rússia, Argélia, dentre outros países comunistas, são sobejamente conhecidos. Da mesma forma os movimentos guerrilheiros surgidos na ocasião, cujos principais dirigentes acabaram sendo eleitos para cargos políticos após a anistia concedida pelo último presidente militar.
Creio que por tudo isto mencionado, foi tão fácil para os governos de esquerda, no poder desde janeiro de 1995 com FHC, cooptar o estamento administrativo do Estado brasileiro e infiltrar nos três poderes um exército de ativistas políticos e militantes partidários.
Lá dentro implantados, começou o desvio de recursos públicos para engrossar as contas dos partidos, que formavam a base dos governos, e as contas particulares de políticos e empresários em paraísos fiscais.
O Governo Bolsonaro, conservador nos costumes e liberal na economia, possui a ingrata missão de desaparelhar o estamento administrativo estatal. Ocorre que são milhares de indivíduos admitidos sem concurso público, contaminados pelo vírus do marxismo que, tendo sido convenientemente doutrinados, estão convencidos de que são nacionalistas e patrióticos, embora, pela visão errada que possuem sobre o que representa o marxismo, trabalhem felizes para cavar suas próprias sepulturas (como fizeram, certamente os cubanos, venezuelanos e agora os argentinos ao terem a sua agropecuária nacionalizada pelo governo comunista, sinal de que em breve irá faltar comida naquele país).
Como visto, não basta culpar os líderes dos governos de esquerda como os responsáveis pela falência a que conduziram o nosso país durante as três décadas em que aqui reinaram soberanos. O estamento administrativo estatal também teve a sua culpa, ao se deixar hipnotizar pelo canto das sereias, como Ulisses, na Obra de Homero ‘A Odisseia’.
O canto da sereia, como todos sabem, acabou se tornando sinônimo para a sedução que o ser humano sofre por ideias irreais e mirabolantes, em razão das quais deixa de usar a razão por causa das suas necessidades prementes e acaba sendo iludido, pagando um preço muito caro e, muitas vezes, colocando-se a si mesmo e ao seu país, em uma situação de não retorno.
Uma ordem presidencial que mais tarde venha a ser considerada ilegal, imoral e prejudicial à nação (por vezes, até mesmo de traição e de lesa pátria), só conseguiu ser implantada graças a dezenas, senão milhares, de funcionários subalternos de segundo e terceiro escalão, que teriam o poder de não a executar caso fossem empregados concursados do Estado e não, apenas, funcionários nomeados do governo com a missão de facilitar suas eventuais falcatruas e maquinações.
Por isso, o atual presidente Jair Bolsonaro tem contra si grande parte do estamento burocrático, que a ele nada deve e que possui ideologia contrária à sua, encontrando, assim, enorme dificuldade para promover qualquer mudança ou implantar qualquer projeto de interesse do país e dos brasileiros.
Dificilmente alguém doutrinado pela ideologia marxista consegue, racionalmente, concluir que ela nada mais é do que uma simples falácia habilmente engendrada para cooptar os infelizes, os desempregados, os insatisfeitos, os que possuem desvios de conduta, os ignorantes e os abandonados pela sorte. Por isto é tão difícil trazê-los de volta à razão e fazer com que deixem de ser fanáticos radicais.
Este é, pois, o cenário com que o nosso atual presidente se depara. Que possa contar com a ajuda divina em sua missão de trazer o país de volta ao rumo do crescimento, da lei e da ordem, da honestidade, da moral e dos bons costumes.