█ O papel da Medicina ao alterar o destino das criaturas

 

Vencendo o medo da morte

 

A doutrina do retorno do espírito à vida material, a partir da reencarnação em outro corpo, teve sua origem há milhares de anos antes da existência de Allan Kardec (1804-1869) e ocorreu, segundo os historiadores, na Grécia, na Índia e entre os povos Celtas.


Na Grécia este conceito foi codificado por Orfeu e por Pitágoras no século VI e, posteriormente, adotado por Sócrates e por Platão, dentre outros filósofos que, mais tarde, vieram a sofrer influências dos Mistérios Órficos e da Escola Pitagórica.


Aristocles de Atenas, mais conhecido como Platão, foi um dos primeiros a enunciar que “os espíritos, antes de encarnarem, são levados a escolher o modelo de vida a que posteriormente ficarão presos”.


Seus diálogos ‘Timeu’ e ‘Fedro’ e sua obra ‘A República’, constituem os principais textos que falam sobre a reencarnação. Nos dois primeiros explica suas concepções a respeito da criação dos espíritos e de sua individualização e desenvolvimento, a partir das reencarnações. Em ‘A República’ utiliza-se de um mito (de Er, pastor de Pamfilia) para exemplificar suas ideias a respeito da reencarnação.


Assim, conforme afirmava Platão, os espíritos escolheriam suas novas vidas de acordo com os costumes de vidas anteriores.


Segundo o filósofo, para o espírito, “a reencarnação em um corpo físico seria uma prisão, por castigo, e só poderia ser evitada a partir da adoção de uma filosofia de vida baseada no amor e na sabedoria”.


          Platão considerava a alma como a consciência, em si, das coisas do bem e do mal, da justiça e da virtude. Seria, ainda, a inteligência como reflexão e interrogação sobre a realidade e a capacidade de descobrir, por si, a verdade e as regras da vida ética. Para ele, a essência da alma era a razão e o principal mal a ignorância.

Para Homero, autor de ‘Ilíada’ e ‘Odisséia’ – Séc. VIII a.C, o Destino está acima do próprio Júpiter que, soberano dos deuses e dos homens, deixa isto claro quando afirma que não pode impedir Sarpedon, seu filho, de morrer na data fixada. O futuro da Terra inteira esteve dependente da morte de Sarpedon, a qual dependia, por sua vez, de outro acontecimento que estava ligado por outros à origem das coisas (tal conceito de necessidade e de fatalidade foi denominado por Leibniz, mais tarde, de Razão Suficiente).


Este determinismo foi completamente esquecido pelos povos ocidentais até a idade contemporânea, em razão da noção de livre arbítrio dominante durante o final da antiguidade e por toda a idade média.


Enquanto alguns povos do Oriente mantiveram a crença no determinismo e na reencarnação, em face de suas doutrinas religiosas; no Ocidente, a expansão do cristianismo veio difundir a noção da não reencarnação e do livre arbítrio, para o bem e para o mal, fazendo surgir, assim, a noção de pecado, segundo afirmava o filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900).


Milhares de anos depois dos filósofos da antiguidade, Allan Kardec em seus principais livros: O Livro dos Espíritos (1857); O Livro dos Médiuns (1861); O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864); A Gênese (1868); O Céu e o Inferno (1865) e O que è o Espiritismo (1859); traçou as bases da doutrina espírita, segundo ele ditada pelos próprios e iluminados espíritos superiores.


Relativamente à morte, em ‘O Livro dos Espíritos’, há um capítulo inteiro sobre o assunto: trata-se do capítulo III, do livro segundo, com o título ‘Retorno da vida corpórea à vida espiritual’.


Algumas questões, como a 149 (Que sucede à alma no instante da morte? “Volta a ser Espírito, isto é, volve ao mundo dos Espíritos, donde se apartara momentaneamente.”), a 163 (A alma tem consciência de si mesma imediatamente depois de deixar o corpo? “Imediatamente não é bem o termo. A alma passa algum tempo em estado de perturbação”.) e a 164 (A perturbação que se segue à separação da alma e do corpo é do mesmo grau e da mesma duração para todos os Espíritos? “Não; depende da elevação de cada um. Aquele que já está purificado se reconhece quase imediatamente, pois que se libertou da matéria antes que cessasse a vida do corpo, enquanto o homem carnal, aquele cuja consciência ainda não está pura, guarda por muito mais tempo a impressão da matéria.”) esclarecem parcialmente este assunto.


Em sua obra ‘O Céu e o Inferno’ (10ª edição, dez 2002, Lake), Alan Kardec no capítulo ‘A Preocupação com a morte’, diz: “No instante da morte, todo homem retorna ao mundo dos espíritos, pátria de origem; Uma vez no chamado outro mundo, conserva plenamente sua individualidade; a separação da alma e do corpo não é dolorosa (grifo meu). O corpo sofre mais durante a vida que no momento da morte; a alma se liberta com o rompimento do laço que a mantinha presa ao corpo; a sensação que se experimenta no momento em que se reconhece no mundo dos espíritos depende do que fizeram em vida. Se foram bons, sentirão enorme alegria. Se foram maus, sentirão vergonha”.


No capítulo ‘A Passagem’, do mesmo livro, específico sobre a questão, Kardec diz: “A preocupação com a morte é determinada pela sabedoria da Providência, e uma consequência do instinto de conservação comum a todos os seres vivos. É necessária, enquanto o homem não estiver esclarecido a respeito da vida futura, como um contrapeso ao arrastamento que, sem esse freio o levaria a deixar prematuramente a vida terrena e a negligenciar o seu trabalho neste mundo, que deve servir para o seu próprio adiantamento. Acrescentemos que tudo, nos nossos costumes, concorre para fazer que lamentemos a perda da vida terrena e temamos a passagem da Terra para o Céu. A morte é cercada de cerimónias lúgubres que servem mais para aterrorizar do que para despertar a esperança. Sempre se representa a morte sob um aspecto repulsivo e jamais como um sono de transição. Todos os seus símbolos lembram a destruição do corpo, mostrando-o hediondo e descarnado. Nenhum nos apresenta a alma se desprendendo, radiosa, dos laços terrenos”.


O tradutor da obra de Kardec acrescenta em nota de rodapé desta página: “Essa impressão negativa, da morte, foi intencional. O objetivo era atemorizar as criaturas a fim de se portarem bem na vida. (Grifo meu). Há uma relação evidente entre essa ameaça da morte e as ameaças de castigos nas escolas, para garantir o bom comportamento dos alunos”.


Vê-se, portanto, que a morte, segundo pensam muitos filósofos e pensadores religiosos, não é o fim de tudo, mas o começo de outra vida, de outra forma. Sob este aspecto, portanto, não há por que temê-la.


Vejamos, agora, se ela costuma ocorrer de forma dolorosa ou não.


Pesquisando a literatura médica relativamente ao fato de ‘se as mortes são dolorosas ou não’, me surpreendi com algumas informações que obtive. A grande maioria das mortes são indolores (conforme afirmado no livro de Kardec, citado anteriormente, e que tive o cuidado de sublinhar), ao contrário do que eu pensava e, creio, do que a grande maioria das pessoas ainda pensa.


A remoção da cabeça de uma pessoa, por exemplo, é considerada uma das mortes mais rápidas e ocorre em alguns segundos.  A morte ocorre com a falência dos batimentos cardíacos e da falta de respiração. Quando ocorre na guilhotina ou por corte de uma espada, por incrível que pareça, é imediata e indolor.


O enforcamento, por sua vez, também induz a uma morte rápida e indolor. A morte cerebral acontece por falta de oxigênio e se dá em menos de um minuto.


Na eletrocussão (morte na cadeira elétrica ou por uma descarga elétrica de mais de 2.000 volts) a morte da pessoa é instantânea e, portanto, indolor.


A injeção letal consiste na injeção de três drogas administradas de forma sucessiva e a morte ocorre em, no máximo, um minuto, com o indivíduo totalmente inconsciente, nada sentindo.


Na morte por fuzilamento o executado leva de 10 a 15 segundos para perder a função cerebral, o que leva à imediata perda de consciência.


O mesmo ocorre nos casos de grandes traumas por acidentes graves e tiros em pontos vitais. A vítima perde logo a consciência, mediante um mecanismo natural que retira o sangue do cérebro, desviando-o para a área onde é mais necessário. Com isso ocorre a perda da consciência e, caso não seja viável algum tipo de socorro médico, a morte ocorre com a pessoa inconsciente, sem sentir nenhuma dor.


Uma parada cardíaca súbita (PCS), enquanto o indivíduo dorme, é uma das mortes mais tranquilas. Uma PCS ocorre devido ao mau funcionamento do sistema elétrico do coração e, se ocorrer durante o sono, o indivíduo não acordará e nem terá consciência de que está morrendo.


Pacientes terminais, internados em hospitais com moléstias graves ou graves traumas, normalmente, se chegam a falecer, estão sedados e morrem sem perceber que morreram e sem sentir nenhuma dor.


O fato é que quando a morte ocorre, na grande maioria dos casos, o indivíduo está inconsciente ou sedado ou ela ocorre tão rápido que é praticamente indolor. Apenas poucas maneiras de morrer provocam algum tipo de dor, como, por exemplo, o infarto ou uma queda de grande altura. Porém, a eventual dor é tão rápida quanto à ocorrência da morte, podendo-se dizer, pois, que inexiste.


Qual a razão, portanto, para que a morte seja tão temida por todos?


Acredito que o problema seja cultural e psicológico. Cultural, na medida em que tem sido incutido pela religião judaico cristã, nas mentes dos seus fiéis e seguidores, buscando atemorizar as criaturas com a existência do inferno e do purgatório (onde no primeiro caso sofreriam eternamente e no segundo até purgarem seus pecados), no sentido de que pautassem seus comportamentos em vida segundo as virtudes pela religião apregoadas (pacifismo, humildade, esperança, caridade, tolerância, bondade, fé, etc. – virtudes estas que deveriam ser perseguidas e cultivadas pelo povo, mas que nunca foram apanágio das elites, até mesmo das eclesiásticas). Psicológica por que todo ser humano tem medo ou receio daquilo que desconhece. Ademais, a morte tem o poder de separar os entes queridos, os familiares e amigos, daquele que se vai, definitivamente, para o desconhecido (mesmo que para o céu dos cristãos, para os verdes campos de caça dos índios norte-americanos ou para o céu das setenta e duas virgens do paraíso islâmico).


No Egito antigo, os faraós faziam questão de que fossem depositados em suas tumbas tudo aquilo de que pudessem precisar no local desconhecido para onde iam. Em alguns casos, em algumas tribos, a mulher  e os servos eram enterrados junto com o chefe, para servi-los no lugar desconhecido para o qual iam após a morte.


O imperador romano Adriano (76 d.C – 138 d.C), escreveu um belo poema sobre a vida após a morte:


Animula vagula blandula

Hospes comesque corporis

Quae nunc abibis in loca

Pallidula rigida nudula

Nec ut soles dabis iocos

(Pequena alma, terna e flutuante)

(Hospede e companheira do meu ser)

(Vais descer pálida, rígida, nua)

(A lugares lúgubres, hesitante)

(Que jamais pensaste algum dia conhecer)


Existem inúmeras traduções do seu poema, mas considero esta a melhor.


Embora no território da morte só exista um caminho; isto é, aquele que leva para adiante; muitos indivíduos, ao longo da história, conseguiram descobrir atalhos que lhes permitiram retornar ao mundo dos vivos. Tais casos são denominados EQM – Experiência de Quase Morte. São pessoas cujos corpos tiveram morte aparente ou real e seus espíritos penetraram, por momentos, nos umbrais da morte e de lá conseguiram retornar para seus corpos, relatando, posteriormente, aquilo que viram e experimentaram durante esta viagem.


O número de casos ocorridos é tão extenso, que têm motivado diversos médicos a escreverem sobre os relatos de seus pacientes que passaram por estas experiências. Como regra geral os pacientes, após vivenciarem suas experiências extracorpóreas, passaram a não mais temer a morte e a interessarem-se pela busca do conhecimento, tornando-se leitores assíduos de todos os assuntos.


Respeito os que não creem na espiritualidade e aqueles que pretendem a ela chegar através das religiões. Todavia, ambas as posições apenas servem para transformar uma coisa tão mágica e tão interessante em algo simples demais. Sem nenhuma graça no primeiro caso ou então repleto de rituais, de crendices e de superstições, no segundo. Convenhamos, meus caros leitores, que estes não devem ter sido os objetivos iniciais do Criador de todas as coisas, ao dar vida aos seres humanos.


Outra questão interessante, que vale a pena destacar neste texto, é o papel da Medicina ao interferir no destino das criaturas, salvando da morte certa aqueles a ela condenados pelo Criador que, segundo a religião cristã, é onipresente, onipotente e onisciente; ou seja, que está em todos os lugares, que tudo pode e que tudo sabe. A morte de todos os seres humanos, segundo afirmam as religiões, foi adredemente programada; isto é, com antecedência e finalidade específica. Ninguém viveria mais do que o tempo que lhe foi determinado por aquele que o criou.


De todas as Leis da natureza, quer se acredite ou não nas existências delas, uma única pertenceria ao rol das coisas que não poderiam ser violadas e esta seria a Lei da Lógica. Como já disse alguém: “As cadeias com que a Lógica acorrenta a Natureza, são apenas formais, não chegando a oprimi-la; porém, em razão disto, são totalmente inquebrantáveis”. Assim, ao considerarmos as Leis da Natureza como ordens que teriam partido de um Criador, estaríamos bem próximos de atribuirmos a estas leis a necessidade de pertencerem às Leis da Lógica.


 A Medicina como todas as demais Ciências, dizem os filósofos, fazem parte do ‘Pacote da Criação’; isto é, ao criar tudo o que existe no Universo conhecido, o ‘Criador de Todas as Coisas’, também, teria criado as leis que regeriam o comportamento e o funcionamento da Sua criação. Tais leis, a pouco e pouco, iriam sendo descobertas pelo homem (figura importante, consciente e, talvez, até mesmo central de todo este fenômeno), dando lugar ao surgimento, pela descoberta humana conforme dito, das diversas Ciências já existentes e outras ainda por descobrir.


A Medicina, como todos nós sabemos, consiste em uma área do conhecimento ligada à manutenção e a restauração da saúde, trabalhando, em um contexto médico, para a prevenção e a cura das doenças dos seres humanos e dos animais.


Segundo alguns autores, a Ciência da Medicina teria surgido, no Ocidente, com Hipócrates (460 a 377 a.C.) e, segundo outros, no Império Aquemênida (no Sudeste da Ásia, entre 550 e 330 a.C.), no Oriente.


Ao longo da História, após Hipócrates, diversos ‘médicos’ contribuíram para o desenvolvimento desta ciência incipiente, notadamente Asclepiades de Bitinia, Claudio Galeno, Ibn Sina (Avicena), Ibn Rushd (Averrois), Ibn al-Nafis, Ibn al-Baytar, Al-Farabi, Al-Zarzi, Louis Pasteur, Alexander Fleming, etc.


Na atualidade, fruto de pesquisas teóricas e aplicadas, a Medicina tem progredido sensivelmente, tendo descoberto as causas e as curas de uma infinidade de moléstias que acometem os seres humanos e os animais. Ao fazer isto, entretanto, segundo podemos supor, tem interferido nos desígnios do Criador para com as Suas criaturas.


Diversas crenças religiosas associam a vida humana (ou a encarnação de um espírito em um corpo material) à necessidade do aprendizado espiritual, aprendizado este que passaria pelas vias dos sofrimentos, das dores e das vicissitudes, necessárias estas para que o aperfeiçoamento ocorresse.


Lembremo-nos que a evolução ocorre dialeticamente e que o embate entre a tese e a antítese é o que provoca a síntese; isto é, a evolução daquelas duas em direção a esta. Algumas crenças falam em, apenas, uma vida e outras em múltiplas existências; todas, entretanto, reafirmam a necessidade deste aprendizado encarnado, para que o espírito possa evoluir.


 As crenças Orientais, panteístas em sua maioria, advogam a existência de um Determinismo com relação ao destino dos indivíduos, enquanto as principais crenças Ocidentais, quase todas monoteístas, propugnam a existência de um Livre Arbítrio.


Com base no que dizem a Religião e a Filosofia, podemos estabelecer algumas hipóteses: 1. A existência humana seria determinística e Deus estaria em toda a Natureza (conforme acreditam o Budismo, Hinduísmo, Sufísmo, Confucionismo, Taoísmo e Xintoísmo); 2. A existência humana seria determinística e Deus estaria fora da Natureza (conforme pensam o Islamismo e o Espiritismo); 3. A existência humana possuiria total livre-arbítrio e Deus estaria em toda a Natureza (nenhuma religião comunga com esta hipótese, pois, aparentemente, se trataria de uma contradição religiosa); e 4. A existência humana possuiria total livre-arbítrio e Deus estaria fora da Natureza (conforme acreditam o Catolicismo e o Protestantismo).


Cada uma destas hipóteses implicaria em uma maneira diferente, para seus seguidores, de encarar a vida e os demais fenômenos Metafísicos, como, por exemplo, a vida após a morte.


 A primeira hipótese seria a que mais nos aproximaria fisicamente do Criador (que estaria na própria Natureza) e, portanto, implicaria em uma menor necessidade da intermediação por parte de organizações religiosas entre Deus e os homens, além de induzir a uma maior pratica das chamadas virtudes, por parte dos cidadãos, em razão da visão determinística da existência.


A última delas seria a que mais nos distanciaria fisicamente do Criador, criando, assim, uma necessidade maior da presença de instituições religiosas para servir de ponte entre o Criador e as criaturas e induziria a uma maior pratica dos chamados vícios (pecados), por parte dos cidadãos, tanto em razão da visão religiosa de livre arbítrio quanto do constante apelo do Sistema Capitalista para a satisfação dos desejos do ego, prontamente atendidos em razão do livre-arbítrio. Tanto é assim, que a noção de pecado e do inferno (onde ficariam os pecadores) é muito forte no Cristianismo.


 Como visto, todas as religiões (quer monoteístas, quer panteístas) admitem a existência de um Criador e de leis que regeriam a criação. Assim, em condições normais, a Natureza operaria segundo os critérios estabelecidos pelo Criador e da forma como necessitaria operar; isto é, nada seria feito de maneira supérflua ou sem finalidade.


Neste contexto, como compatibilizar a Medicina (que objetiva salvar e prolongar a vida dos seres humanos) com as Leis da Natureza? A interferência da Medicina teria, assim, a propriedade de interromper o livre curso da Natureza, modificando-o a revelia do Criador; já que, nada ocorreria por acaso (assim, o indivíduo que estivesse enfermo, possuísse deformidades ou estivesse à beira da morte, teria, necessariamente, de passar por tudo aquilo, para atingir a evolução prevista para o seu espírito naquela atual existência). A Medicina, ao corrigir deficiências, curar enfermidades e prolongar a vida do ser humano, estaria interferindo nos desígnios do Criador.


Determinada crença religiosa cristã é conhecida mundialmente pelo fato dos seus seguidores recusarem transfusões de sangue. Estes fazem isto com base em suas interpretações de Genesis 9:4; Levítico 17:10; Deuteronômio 12:23; Atos 15:28, 29 e Levítico 17:14.


Em todos os lugares do nosso planeta onde a vida surgiu (quando na ausência de qualquer interferência humana), ela tem seguido o seu curso normal; isto é, a Lei Natural que faz com que tudo aquilo que necessite morrer, morra. Com a interferência dos seres humanos e da Ciência da Medicina, esta Lei pode ser anulada e constantemente o tem sido, para felicidade nossa.


Filosoficamente, entretanto, a questão que se coloca é a de que os praticantes da Ciência Médica, ao obstarem a ação da Natureza mediante as suas intervenções e impedirem, assim, a ação da Lei Natural, interferem na programação divina de aprendizado dos espíritos encarnados.


Lembremo-nos que a constituição física de cada indivíduo, seu DNA, seus cromossomas, sua resistência ou propensão às doenças e as enfermidades, etc., são determinados de maneira exógena; isto é, já vieram com eles quando dos seus nascimentos (ou encarnações).


Ao se acreditar na existência de um Criador, nas Leis da Natureza, na necessidade da evolução espiritual e no consequente caminho do sofrimento para atingir esta evolução, a interferência do médico com a sua ciência, embora vista com alegria, carinho e respeito pelos pacientes, pode ter conotações espirituais desconhecidas por nós, ao permitir prorrogar a vida de alguém que teria, inexoravelmente, sucumbido pela ação da Lei Natural.


Reconheço ser este um assunto complexo e, filosoficamente, ainda não solucionado a contento até o presente. Quem sabe se, futuramente, a Ciência, a Religião e a Filosofia não convergirão para um ponto comum, de modo a chegarem, as três, a possuir a mesma concepção Metafísica sobre o fenômeno da vida e da morte, de modo a que possamos ter uma resposta definitiva para esta instigante questão que desafia a Filosofia, a Ciência e a Religião?


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