Carlos Alberto Pinto Silva [1]
A razão das ameaças, pode ser que países do chamado Primeiro Mundo, vejam o Brasil num contexto específico da disputa, antiga e ultrapassada, do Norte contra o Sul em vez do estratégico[2].
1. REALISMO POLÍTICO
O realismo político de Maquiavel é o reconhecimento da condição de que a realidade dos fatos é composta de astúcia, força, violência, falsidade, dissimulação (algo bem longe do moralismo pregado pela tradição cristã) (Alexsandro M. Medeiros, Nicolau Maquiavel – site Sabedoria Política).
Para o realismo, as relações internacionais são definidas pela condição anárquica da política internacional e pela desigual distribuição de poder na estrutura do sistema internacional. Os atores fundamentais do sistema são os detentores do poder, ou seja, os estados.
O realismo político articula-se, dessa forma, em torno de dois conceitos chave, o poder e o conflito, e identifica a natureza humana como egoísta, predatória e propensa à conquista (Wikipédia – Google).
2. GUERRA E PAZ
Partimos do conceito de que guerra e paz são parte do mesmo fluxo das relações internacionais.
O mundo, atualmente, está em um estado de “Guerra Política Permanente”, onde a paz é relativa, não há inimigo e sim estados com ações hostis em defesa dos seus interesses.
Vivemos, portanto, um tempo sem frente de batalha e sem regras de engajamento, em que apaga-se a linha divisória entre o estado de guerra e de paz.
“Guerra Política”, foi conceituada por George Kennan como “o uso de todos os meios de disponíveis de uma nação para alcançar objetivos nacionais sem entrar em guerra (aquém da guerra).
O termo “Permanente”, por sua vez, não possui relação direta com a duração das guerras. Diz respeito, na verdade, à condição assumida pelo Estado de que qualquer ação de política externa, em defesa de interesses nacionais, é um “conflito na zona cinza”[3](“Uma atividade coercitiva e agressiva por natureza, mas deliberadamente concebida para permanecer abaixo dos limites de um conflito militar convencional”).
As principais causas dos conflitos, na atualidade, são econômicas ganhando força a geoeconomia.
3.EXCEPCIONALISMO AMERICANO E O GOVERNO MUNDIAL ATRAVÉS DA GUERRA POLÍTICA PERMANENTE.
3.1. PENSAMENTO DE JOHN BOYD[4].
Um teórico da guerra americano, consultor no escritório Aéreo Tático do Escritório do Secretário Adjunto de Defesa para Análise e Avaliação de Programas, JOHN BOYD, realizando apresentações sobre sua visão da guerra no Pentágono para chefes militares, traçou um objetivo estratégico “que é o de, através da gerência do caos, aumentar o grau de incerteza do inimigo e produzir seu colapso moral. Esse objetivo e o modo de fazer a guerra decorrente dele viabilizam o exercício do excepcionalismo americano por meio da intervenção do “Governo Mundial” e através da “Guerra Política Permanente”.
A efetivação do pensamento de Boyd se expressa na prática da Guerra Política Permanente. Uma vez que seu objetivo final é, mais do que a derrota física do adversário, sua derrota moral, e os meios para se conduzir a guerra serão variados. A política e a economia, portanto, constituir-se-ão em meios ordinários de se fazer a guerra.
“Penetrar o ser moral, mental, e físico do adversário de modo a dissolver sua fibra moral, desorientar suas imagens mentais, romper suas operações, e sobrecarregar seu sistema, assim como subverter, quebrar ou capturar, senão subjugar os bastiões morais, mentais e físicos, conexões ou atividades nas quais ele depende, a fim de destruir a harmonia interna, produzir paralisia e colapsar a vontade adversária de resistir.”
Após o 11 de setembro os Estados Unidos para o exercício do excepcionalismo norte-americano, por meio da Guerra Política Permanente, precisavam exercer e expandir o seu Soft Power (poder brando ou poder de convencimento), pois, o país diminuiu os investimentos e efetivos de sua força militar, Hard Power (poder duro ou potência coercitiva), apesar das práticas de Diplomacia Pública terem sido consideradas excessivas após o fim da Guerra Fria.
3.2. DIPLOMACIA PÚBLICA.
Uma de suas vertentes busca influenciar as opiniões públicas nos países estrangeiros por parte dos governos. Usada com “Soft Power” para penetrar o ser moral, mental, e físico do adversário de modo a dissolver sua fibra moral, desorientar suas imagens mentais, assim como subverter, quebrar ou capturar, senão subjugar os bastiões morais, mentais e físicos, conexões ou atividades nas quais ele depende, a fim de destruir a harmonia interna, produzir paralisia e colapsar a vontade adversária de resistir.
A visão do terrorismo como ameaça externa foi fundamentalmente modificada pelo 11 de Setembro, principalmente por atingir símbolos do “Poder” e da “Economia” dos EUA e, também, por serem os terroristas residentes no país.
Mostrou-se indubitável que perdurava um forte sentimento antiamericano no Oriente Médio. O governo americano retomou o valor da “Diplomacia Pública” considerando que era preciso conquistar os corações e mentes dos islâmicos e legitimar a causa estadunidense de luta contra o terrorismo.
3.3. MÍDIA NORTE-AMERICANA.[5]
“Noam Chomsky e Edward Herman se debruçaram sobre o funcionamento da mídia norte-americana em “A Manipulação do público”. Na obra, os autores defendem que os media (meios de comunicação social) norte-americanos reverberam os pontos de vista do establishment (poder instituído) e apresentam um modelo de propaganda (propaganda framework) em que a cobertura maciça de um acontecimento particular é tratada como uma campanha de publicidade.”
“A Diplomacia Pública também foi meio utilizada na Segunda Guerra do Golfo para influir na opinião popular, sendo entendida como o esforço para promover o interesse de um ator — nem sempre um Estado — através da capacidade de informar e influenciar pessoas em outros países. Por conta das ferramentas de convencimento utilizadas, como intercâmbios educacionais ou culturais e o estímulo à troca de informações e publicações, alguns autores relacionam seu conceito ao de “Soft Power”.”
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
4.1.O “REALISMO NORTE-AMERICANO” EM RELAÇÃO AO BRASIL
A política externa dos EUA, em relação a Brasil, leva em consideração uma estratégia de ações políticas e diplomáticas que visa ocupar posições que, a longo prazo, garantam a estabilidade dos seus interesses, e a manutenção de sua influência, como Potência Hegemônica, na Área Estratégica da América do Sul.
4.2. O “REALISMO DO BRASIL”
O Brasil é um ator regional que na política e na economia já atingiu uma influência global.
A principal preocupação estratégica do Brasil é, inexoravelmente, relacionada à economia. A capacidade interna do país de conseguir realizar as mudanças estruturais necessárias e o crescimento econômico permitirão o aumento de dois dos padrões de Poder (Econômico e Militar).
O Agronegócio, as reservas minerais, petrolíferas e de água doce, a disponibilidade de áreas agricultáveis, o clima, a Embraer com centena de seus aviões voando em vários países mostram ao mundo desenvolvido um país pujante.
Samuel Huntington quando escreveu “The Lonely Superpower”, entende que, com a dissolução da União Soviética, ainda não apontava de forma mais nítida para a possibilidade de uma nova ordem bipolar. Para ele, viveríamos em sistema híbrido, que rotulou de “uni-multipolar”: uma superpotência dividiria espaço com várias potências que, se não lhe são comparáveis, nem por isso deixariam de cumprir funções relevantes para a configuração do sistema. Huntington elegeu para sua lista: o “condomínio Franco germânico”, na Europa; a Rússia, na Eurásia; a China e potencialmente o Japão, no leste asiático; a Índia, no sul asiático; o Irã, no sudoeste asiático; o Brasil, na América Latina; e a África do Sul e a Nigéria, na África.[6]
O surgimento de uma potência regional emergente, como o Brasil, é sempre um fator de desestabilização, insatisfação e reação do sistema mundial, porque sua ascensão ameaça o monopólio das potências estabelecidas.
O Brasil, pelas
vantagens geopolíticas e recursos que possui, poderá vir a deslocar alguém do
assento à roda de seleta mesa da política internacional.
[1] Carlos Alberto Pinto Silva / General de Exército da reserva / Ex-comandante do Comando Militar do Oeste, do Comando Militar do Sul, do Comando de Operações Terrestres, Ex-comandante do 2º BIS e da 17ª Bda Inf Sl, Chefe do EM do CMA, Membro da Academia de Defesa e do CEBRES
[2] Excepcionalismo Americano E Francês. https://www.defesanet.com.br/dc/noticia/39402/Gen-Ex-Pinto-Silva—Excepcionalismo-Americano-e-Frances/
[3]De acordo com Hal Brands, o “conflito na zona cinza é uma atividade coercitiva e agressiva por natureza, mas deliberadamente concebida para permanecer abaixo dos limites de um conflito militar convencional”. Ou seja, “a Zona Cinza se caracteriza por uma intensa competição política, econômica, informacional e militar, mais acirrada que a diplomacia tradicional, porém inferior à guerra convencional”.
[4] O
Pensamento de Boyd e a Resposta Neoconservadora Estadunidense à Ascensão do Sul
João Gabriel Burmann da Costa e Luiza Costa Lima Corrêa
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[5] Guerra Do Iraque: Censura E Propaganda Via Jornalismo Embedded https://monografias.brasilescola.uol.com.br/historia/guerra-iraque-censura-propaganda-via-jornalismo-embedded.htm#indice_8
[6] Os EUA No Mundo: Percepções. Antônio de Aguiar Patriota – http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/al000127.pdf