O vocábulo mentecapto, dizem os dicionários, vem do latim mentecaptu, indicando falso juízo. No Brasil significa doido, idiota, alienado, aquele que perdeu a razão ou o juízo.
A título de simples curiosidade, ‘O Grande Mentecapto’ é um romance do escritor brasileiro Fernando Sabino, publicado em 1979 e que virou filme, narrando as aventuras de Geraldo Viramundo, espécie de Dom Quixote brasileiro, que percorre Minas Gerais em busca de aventuras, como Quixote fazia em La Mancha, na Espanha. Mentecapto era, também, um vocábulo empregado com frequência pelo ator cômico, já falecido, Ronald Golias, em seus quadros humorísticos.
Já mequetrefe, talvez, venha também do latim moechus, indicando libertino, adultero. Em espanhol significa pessoa inconveniente, imprestável, intrometida, trapaceira, não confiável, tendo conservado em português estes mesmos sentidos.
Mequetrefe, também a título de curiosidade, foi um jornal brasileiro, ilustrado e humorístico, publicado no final do século XIX, com claro teor republicano e pelo qual passaram grandes nomes da literatura e da caricatura do país na época.
Fundado em 1875 no Rio de Janeiro (então a capital do país), teve duração até 1893, quando, após a morte de seu proprietário, veio finalmente a deixar de circular.
Quem em nosso país não conhece algum mentecapto ou, ao menos, um mequetrefe? Talvez não por estes nomes pouco usados, mas, sem dúvida alguma, por suas características aqui já descritas.
Eles, certamente, estarão presentes em todas as principais expressões do poder nacional: na vida política, na vida econômica, na vida militar e na vida psicossocial.
Quantitativamente, devem representar milhares, senão milhões, de brasileiros que, diariamente, se mostram inconvenientes, imprestáveis, libertinos, alienados, trapaceiros, intrometidos, patifes, não confiáveis.
Qualitativamente, uns possuem maiores graus de acometimento que outros, variando desde um grau pequeno, passando pelo mediano e chegando até ao grau extremo, superior ou ápice.
Eles poderão ser encontrados em todos os Estados da Federação, em todas as profissões, em todos os poderes da república. Notadamente são encontrados em grande quantidade na carreira política para a qual nenhum pré-requisito é exigido, a não ser o de possuir a capacidade de convencer os eleitores de que o próprio candidato se trata de uma pessoa honesta e de que vai trabalhar pelo bem da nação, do estado ou do município pelo qual se candidata, embora, quase sempre, não pretenda cumprir o que promete.
Suas capacidades mais comuns, depois de eleitos ou de nomeados para um cargo na administração pública, são as de prejudicar o desenvolvimento do país; de entravar a administração; de fazer com que a economia regrida; de promulgar leis, decretos, normas, portarias, pareceres, laudos, sentenças que não servem para nada, a não ser para ocupar o tempo ocioso de que dispõem frequentemente e para impedir ou dificultar a liberdade de expressão do pensamento, de livre negociação, de livre atividade econômica, criando barreiras para tal.
Seus objetivos, como já mencionado, são os de burocratizar, cada vez mais, todas as atividades, criando dificuldades que a principio parecem ser intransponíveis ao cidadão comum; mas, que, pouco tempo depois, são facilmente superadas por aqueles que se dispõem a consultar determinados escritórios de assessoria técnica jurídica, econômica, financeira, de engenharia e contábil, vinculados à parentes, a amigos ou “laranjas” de alguns destes brasileiros fabricantes e vendedores de leis, decretos, normas, portarias, sentenças, laudos, pareceres, relatórios, decisões, etc.
Todavia, eles não se consideram nem mentecaptos nem mequetrefes. Julgam-se, certamente, autoridades judiciosas, ponderadas, criteriosas, qualificadas, sóbrias, honestas, e, finalmente, espertas, imaginando-se verdadeiras “Águias de Haia” na administração pública.
Quando alguma denúncia da mídia os atinge, dizem que sofrem perseguições políticas de opositores ou tentam livrar-se da denúncia, transferindo-a para a instituição em que trabalham, afirmando que forças ocultas estão tentando desqualificar o organismo público onde serve, com acusações levianas, ofensas, aleivosias, acusações infundadas, calúnias, injúrias, etc.
Muitos deles, depois de vários anos de conluio em fraudes e desvios de recursos, conseguem deixar a política ou a vida pública, saindo completamente impunes e com patrimônios milionários.
Antes da existência da WEB e das redes sociais, quando as informações eram privilégio de poucos brasileiros e dos mais ricos, o povo desconhecia grande parte dos verdadeiros escândalos proporcionados pelos mentecaptos e pelos mequetrefes em mais alto grau e nos mais altos cargos.
Com o advento destas duas fontes de informação, as notícias se espalham com a velocidade da luz por todo o território nacional, sendo muito difícil que as ações deletérias de um mequetrefe ou de um mentecapto, seja no mais baixo ou no mais alto grau, passem, hoje, despercebidas do grande público em geral e dos eleitores em particular.
As palavras, mentecapto e mequetrefe, podem ter caído em desuso e não ser mais reconhecidas pelas gerações que se sucedem; porém, as características intrínsecas de personalidade daqueles que ostentam os seus títulos, ou seja, os caráteres de um mentecapto ou de um mequetrefe, estes jamais deixarão de ser notados em todas as épocas e lugares.
Estas duas figuras, já mencionadas, encontradas na vida pública, também são encontradas na vida privada, em seus diversos graus.
Podem ser reconhecidas na figura daqueles patrões que não respeitam seus empregados, que gostam de enganá-los. Daqueles comerciantes que roubam no peso, na quantidade e no troco, vendendo produtos fora do prazo de validade e sonegando impostos mediante a não emissão de notas fiscais. Daqueles industriais que falsificam produtos e que também roubam no peso e na qualidade. Daqueles gerentes ou simples empregados que desviam recursos (ou clientes) da empresa em que trabalham, visando prejudicar os patrões e se beneficiarem. Daqueles que trabalham em relações públicas e que, despreparados para os cargos e sem aptidão para a função, destratam os clientes, fornecem informações erradas ou nem se dão ao trabalho de atender ao telefone quando este toca ao lado.
Nenhum deles, mequetrefes ou mentecaptos, percebe que prejudicando aos demais, na tentativa de se beneficiar, estará prejudicando à si próprio, à sua família, aos seus amigos, ao seu país.
O grande problema, no entanto, consiste em fazer com que aqueles que o são, se deem conta de se enquadrarem nestas características que os definem. É fácil perceber tais características nos outros, mas é muito difícil percebê-las em si mesmo.
Creio que seja, talvez, esta a razão pela qual existem tantos mequetrefes e mentecaptos em nosso país e o motivo pelo qual, em todas as expressões do poder nacional, nas últimas três décadas de governos de esquerda, como em uma ordem unida tresloucada, mais parecendo a coreografia demoníaca de um carnaval satânico, que nos afasta, cada vez mais, dos objetivos nacionais permanentes, a cada passo que damos para a frente, damos sempre dois passos para trás.