Platão, certa ocasião, teria declarado perante uma plateia grega: “O castigo dos bons, que não fazem política, é serem governados pelos maus”. O Filósofo Voltaire, por sua vez, teria dito: “A política tem a sua fonte na perversidade e não na grandeza do espírito humano”.
A existência ou não de vida após a morte, preocupação dos seres humanos desde os primórdios da civilização como nos demonstram os historiadores, os antropólogos, os arqueólogos e os filósofos com as suas pesquisas, investigações de campo e seus simples raciocínios, deduções e inferências, têm sido exploradas por aqueles que, visando seus próprios interesses, utilizam-se politicamente dos aspectos ideológicos e religiosos extraídos dos fundamentos desta questão, com o objetivo de conduzir as populações humanas para o rumo que desejam e conseguir obter delas tudo aquilo que pretendem; isto é, a obediência, o servilismo, a riqueza, o acatamento, a resignação, a credulidade, a devoção, a ingenuidade, a fé, a superstição, a ignorância, etc.
Fazendo um breve retrospecto histórico, podemos constatar que para o homem primitivo a morte tratava-se de um caso fortuito, não existindo de forma natural. Explico-me melhor: quando ela eventualmente ocorria fora de episódios de guerra, segundo eles imaginavam, tratava-se de uma ação má de algum espírito ou de algum feitiço executado contra o morto. Tanto era assim que interrogavam o cadáver sobre o autor do crime, tentando adivinhar as respostas deste ao observarem, acuradamente, o entorno do local em que estavam em busca de sinais ou de respostas supostamente fornecidos pelo morto acerca do causador de sua morte. Ademais, era crença antiga que o morto iria partilhar também do mundo dos deuses, com eles coabitando, razão pela qual eram venerados após o funeral como deuses lares, que velavam pelo lar e pela família dos primitivos humanos.
Constata-se, pois, que, real ou fantasiosa, a crença em uma vida após a morte sempre esteve presente entre os seres humanos. Tanto é que os primitivos abasteciam os túmulos dos mortos com coisas que estes eventualmente necessitariam em sua outra existência. Certos povos enterravam o chefe do clã, morto, junto com a sua esposa e com os criados, todos estes ainda vivos.
Filosoficamente, no entanto, se o nosso objetivo nesta existência for o de aprender e evoluir espiritualmente, conforme mencionado por todas as religiões, evidentemente o local de onde vieram os nossos espíritos, antes de nascermos neste planeta, possuiria, necessariamente, organizadores e administradores que seriam superiores intelectual, cultural, tecnológica e espiritualmente àqueles nossos administradores humanos existentes neste pequeno planeta onde, forçosamente, fomos obrigados a viver após termos nascido. Está dedução, a meu ver, seria lógica para qualquer um que meditasse sobre o assunto. Não só os organizadores e os dirigentes deste local desconhecido seriam superiores a qualquer um de nós humanos, mas, também, o próprio ambiente de onde procederíamos deveria ser mais culto, mais organizado, mais limpo, mais belo e tecnologicamente mais evoluído do que este pequeno planeta inóspito onde tivemos a felicidade (ou a infelicidade) de aportar para usufruir como morada até o final de nossas existências.
Ocorre que o ser humano primitivo ao chegar ao planeta Terra, vindo não sabia de onde e deparando-se com coisas que desconhecia e que admirava embora não as houvesse criado passou a atribuir as suas existências aos chamados, Deuses que seriam os criadores de tudo aquilo que viam, bem como daquele mesmo e dos incontáveis outros mundos que podiam contemplar quando, à noite, olhavam para o céu. Foi por esta época, certamente, que ocorreu o surgimento do Politeísmo. Existiriam inúmeros Deuses: o dos rios, o dos mares, o das tempestades, o do trovão, o dos raios, o das matas, o da caça, o da fartura, o da chuva, o das colheitas, etc.
Surgiu, a partir de então, inexoravelmente, a Mitologia com a sua gradação de Deuses, maiores e menores, como forma de tentar explicar o inexplicável. A Mitologia tentava formular uma estória coerente sobre os Deuses, suas famílias, suas vidas diárias, suas desavenças, suas moradas, suas ambições, etc. Entretanto, os seres humanos, por basearem-se em seus próprios comportamentos, imaginavam poder contar com a bondade e com a maldade, sem dúvida alguma existente nos deuses, e, por isso, necessitavam homenageá-los para angariar suas benesses. Surgiu, logo em seguida, alguém ou uma determinada classe de pessoas que se propunha a fazer esta intermediação em troca, evidentemente, de vantagens pessoais, tanto por parte dos seres humanos quanto também dos Deuses, aos quais serviriam: apareceram, assim, os sacerdotes. Embora os povos fossem inicialmente politeístas, a evolução social acabou conduzindo-os para o monoteísmo por razões de ordem econômica, conforme os leitores mais curiosos poderão confirmar em suas pesquisas particulares.
O monoteísmo foi, sem dúvida, o fator que possibilitou a conquista e a manutenção, definitiva, de Reinos e de Cidades Estados pelos conquistadores, sem a necessidade de destruí-los e de eliminar fisicamente às suas populações; pois, a partir de então, um mesmo Deus poderia ser venerado por conquistadores e por conquistados. Antes, os reinos e as cidades conquistadas tinham que ser necessariamente destruídas e as suas populações exterminadas; pois os Deuses eram locais e os conquistadores não poderiam ocupar aquele território e ali ficar por muito tempo, em razão de ser aquela uma região onde o Deus dominante era outro e não próprio Deus do conquistador; já que este deveria fazer orações e sacrifícios ao seu Deus particular e protetor. Não poderia, evidentemente, fazê-lo no território onde reinasse qualquer outro Deus distinto do seu. O monoteísmo possibilitou que isso pudesse ser feito e, também, permitiu manter como preposto (ou gerente) naquele mesmo reino conquistado, o próprio rei deposto ou algum familiar seu, pois, com a existência de um Deus comum e único, a conquista física daquele novo reino, cidade ou território, nenhuma mudança acarretaria no tocante ao fator religioso e aos seus sacrifícios obrigatórios, importantíssimos para o homem primitivo.
Por sua vez, do outro lado do mundo, no Oriente, já existia a ideia de que tudo o que existia no Universo, além de ter sido criado por um único Deus, era parte integrante do próprio Deus. Tratava-se daquilo que ficou sendo conhecido como Panteísmo; isto é, a ideia em que Deus se encontrava presente em tudo àquilo que existia no nosso planeta e fora dele, bem como tinha sido por Ele mesmo criado, sendo Ele parte integrante de toda a sua criação; embora entre muitos povos asiáticos além do panteísmo existia também o politeísmo. Já se acreditava no espírito humano, em suas múltiplas encarnações e na transmigração de um espírito para outro corpo entre as sucessivas possíveis encarnações do espírito, podendo a transmigração ser feita para corpos humanos, de animais ou mesmo de insetos.
Tendo começado de forma bastante simples, esta ação dos sacerdotes chegou, com o passar dos tempos, ao ponto mesmo de, objetivando arrecadar dinheiro, começarem a vender indulgências para pecados já cometidos e/ou ainda a cometer futuramente; de venderem lugares bem situados neste novo reino onde viveria o Deus criador de todas as coisas; bem como, de chegarem ao ponto de eliminar fisicamente quem desacreditasse das suas ideias, crenças, postulados, mandamentos e cosmogonias (ideias relacionadas à existência do Universo ou da realidade dos seres humanos).
Desde então, em termos religiosos, a coisa só fez se aperfeiçoar, com a criação do céu (onde ficariam os bons espíritos), do inferno (para onde iriam os maus espíritos) e do purgatório (local temporário em que os espíritos daqueles que morreram em estado de graça seriam preparados para irem para o Reino dos céus); da elaboração de mandamentos ou de livros sagrados, onde o Criador de Todas as Coisas explicaria, com maiores detalhes, o que pretenderia de suas criaturas; da idealização de um tribunal ultratumular que julgaria, no final dos tempos, as más ações, os maus pensamentos e as más palavras (quando proferidos ainda em vida) de todos os espíritos já desencarnados. Diversas religiões mais modernas possuem conceitos, objetos, estórias, interpretações, personagens e datas importantes, apropriadas de religiões muito mais antigas, bem como cosmogonias semelhantes ou idênticas, demonstrando, com isso, que a famosa Lei de Lavoisier (1743-1794) ou da Conservação das Massas (segundo a qual “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”) já era conhecida na mais remota antiguidade.
As três principais religiões mundiais da atualidade podem ser consideradas o Islamismo, nascido dos povos semitas; o Budismo, nascido dos povos de origem indiana e o cristianismo, iniciado a partir dos povos mediterrâneos. Hoje em dia as três concorrem mundialmente em termos de hegemonia religiosa. Alguns líderes religiosos e autoridades mundiais pretendem unifica-las em uma só religião; posto que, o conceito monoteísta já se consolidou entre a maioria dos religiosos.
Diversos pensadores religiosos, ao longo da história, tentaram obter justificativas filosóficas que se situassem além de simples crenças e de convicções, para tentar explicar, de modo racional, a necessidade da existência de um Criador, bem como as diversas partes e passagens dos livros considerados sagrados, tentando conciliar a fé com a razão e o conhecimento, sem a necessidade de recorrer sempre aos dogmas.
Dentre vários destes pensadores, podemos destacar: Platão, Aristóteles, Agostinho de Hipona, Justino, Tomas de Aquino, Thomas More, Francis Bacon, Thomas Hobbes, George Berkeley, João Duns Escoto, Clemente de Alexandria, etc.
Outros tantos filósofos e cientistas tentaram demonstrar a existência de um Criador sem a necessidade da religião e outros, ainda, salientaram ser o mundo um reles acidente fortuito, fruto simplesmente do acaso. Dentre este grupo mencionado, destacaram-se na Idade Média: Galileu Galilei e Giordano Bruno. Mais tarde, durante o Iluminismo, René Descartes, John Locke, Montesquieu, Jean-Jacques Rousseau e Voltaire. Entre os filósofos, cientistas e escritores que se pronunciaram, de forma mais ou menos ambígua, sobre a matéria, podem ser destacados os seguintes: William Shakespeare, Leonardo da Vinci, Sigmund Freud e Friedrich Nietzsche. Karl Marx e Friedrich Engels eram ateus por convicção e o eventual Criador de Todas as Coisas jamais participou como coadjuvante de suas teorias. Com a tese do Materialismo Histórico eles defendiam que a evolução histórica, desde as sociedades mais remotas até a atual, se daria pelos confrontos entre diferentes classes sociais decorrentes da “exploração do homem pelo homem”. O Materialismo Histórico faria parte daquilo que eles denominavam de Leis Historicamente Determinadas.
Em minha modesta opinião, a única Lei Historicamente Determinada é a Lei que trata da eterna luta do bem contra o mal…
Inúmeras correntes filosóficas existem na atualidade, como o ateísmo, o materialismo, o ceticismo, o racionalismo, o niilismo, o anticlericalismo ou o anticristianismo, que, baseadas em diferentes campos da ciência e da filosofia, defendem que as leis que regem o Universo independem da existência de qualquer Deus ou de algum eventual Criador. É o caso, mais recentemente das teorias científicas de Stephen Hawking e de Richard Dawkins. Vejam bem que muitas destas correntes mencionadas são apenas correntes filosóficas (fruto simplesmente do pensamento de algum filósofo) e não correntes científicas (que devem se submeter ao processo científico de observação, problematização, formulação da hipótese, experimentação e teoria e, ademais, contar com um razoável número de cientistas que as endossem).
Mas, deixando de lado os aspectos históricos e voltando ao tema que dá título ao presente texto, constato que a utilização política que se dá ao ato da morte, em si, bem como de suas possíveis posteriores consequências aqui mesmo no planeta ou em outro plano de existência para aquele que morreu, tem sido sempre ou de ordem religiosa (“partindo daqueles que acreditam que haja outra vida após o fim da existência terrestre e que a sua verdadeira explicação, bem como os caminhos para acessar esta nova vida, da melhor maneira possível, seriam aqueles obtidos através da religião”) ou de ordem ideológica (“propagada por aqueles que acreditam ou não na existência de um Criador; ou seja, aqueles que possuem uma religião e uma ideologia ou aqueles que não possuem religião; pois a substituíram por alguma ideologia ateia, ideologia está que propugna que só vivemos uma única vez e é nesta nossa vida que devemos procurar satisfazer todos os desejos do nosso ego e reparar as eventuais injustiças cometidas contra nós mesmos, sem darmos importância maior aos falsos aspectos religiosos das nossas existências”). Tais crenças, em uma ou em outra destas alternativas, irão desenhar e condicionar a forma de os indivíduos encararem as suas vidas terrestres; bem como, os seus valores, costumes e atitudes, frente a si mesmo e aos demais seres humanos.
Saliento que existem ideologias que preservam a imagem de um Criador e ideologias para as quais o Universo não possui um Criador. Só não existe religião sem Criador, o que seria uma contradição Metafísica.
Apenas por curiosidade eu questiono a razão pela qual nenhuma ideologia ou religião, das inúmeras já criadas ou ainda existentes no planeta, jamais fez menção, que eu saiba, sobre a possibilidade da existência de outro tipo de civilização terrestre, ideal em termos de igualdade plena, totalmente justa e voltada para a paz e para o bem estar dos indivíduos, que pudesse vigorar eternamente durante vida dos seres humanos neste planeta, sem possuir nenhuma conotação de ordem religiosa ou ideológica.
Segundo os pressupostos das religiões e ideologias existentes, as populações humanas sempre trabalhariam sob as ordens de uma classe dominante para atender aos objetivos desta mesma classe. As supostas democracias existentes no planeta, nas quais as populações se vangloriam de poder eleger seus representantes, nada mais são do que simulacros de democracias.
Na realidade os representantes do povo, em qualquer suposta democracia, também são representantes dos grandes grupos que comandam as expressões do poder nacional daquele país. Em inúmeros países ao redor do mundo, que se proclamam democracias, a reeleição é permitida e inúmeros personagens perpetuam-se no poder, notadamente nas repúblicas socialistas, populares e comunistas, como na Coréia do Norte, na China, na Rússia, em Cuba, na Venezuela, etc. No ocidente ocorre a mesma coisa, com políticos eleitos para dezenas de mandatos sucessivos em diversos países que se dizem democratas. Em muitas democracias as urnas são fraudáveis e fraudadas, razão pela qual as eleições são, apenas, um simulacro de pleito universal. Democracia é, pois, um simples vocábulo a fazer parte da língua de qualquer país. Nada mais.
Nenhuma ideologia ou religião, que eu tenha conhecimento até agora, mencionou, como se fosse realmente possível, a existência de uma experiência de governo única neste planeta, onde as coisas se passariam de forma diferente da que estamos acostumados até o presente; isto é, uma forma de governo onde não vigoraria a exploração do homem pelo homem. Uma forma de governo de um país terrestre regida pelo amor, onde todos os seus integrantes seriam colaboracionistas e não concorrenciais e viveriam apenas para fazer o bem ao próximo. Uma forma de governo sem vícios e apenas com virtudes, onde todos viveriam em paz e visando, unicamente, o progresso da espécie humana. Após uma experiência piloto em algum lugar do mundo, a ideia poderia ser expandida, em seguida, para todos os países. Isto parece ser algo impossível de ser obtido com a espécie humana, embora muitas espécies animais tenham obtido êxito nesta empreitada, como, por exemplo, as abelhas, as formigas, os cupins, etc. Os seres humanos estariam dispostos a abrir mão de seus vícios em prol da coletividade: inveja, ambição, egoísmo, orgulho, covardia, ganância, mesquinharia, ódio?
Em sua obra A República, Platão se referiu a uma cidade ideal, chamada de Kallipolis. Nela, deveria ser adotado um novo tipo de aristocracia, diferente da aristocracia tradicional, que era baseada em bens e na tradição. A proposta do filósofo era de que esta aristocracia possuísse como critério o conhecimento. O livro abordava diversos temas, como política, educação, imortalidade da alma, etc. Entretanto, o tema principal e eixo condutor da obra era a justiça.
Dizem que um determinado rei, interessado pela obra, teria convidado Platão a implantar a referida República em suas terras. Pouco depois de Platão ter atendido ao monarca, foi posto para fora do reino, ao este perceber a revolução que se abateria sobre o seu domínio.
Thomas Morus (1478-1535) escreveu A Utopia, em parte inspirada na obra de Platão. Consistia está em dois livros. No primeiro ele criticava a Inglaterra da época e no segundo apresentava Utopia, uma ilha no Novo Mundo, que seria uma sociedade alternativa. A obra, de cunho socialista, inspirou socialistas do Século XIX, como Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), Charles Fourier (1772-1837), Robert Owen (1771-1858) e Saint-Simon (1760-1825), que ficaram conhecidos como socialistas utópicos.
As obras de Platão e de Morus, no entanto, ainda que não fossem de cunho religioso ou ideológico, jamais saíram do papel e deixaram de ser, apenas, aquilo que sempre foram; isto é, nada mais que simples Literatura.
Sempre que alguma religião fala em um eventual novo mundo, de uma nova existência com justiça e igualdade, ela está se referindo à vida após a morte e se oferecendo, por dinheiro, para intermediar a penetração de eventuais seguidores neste novo mundo; já que, durante a vida no planeta em que vivemos uma civilização com tais características de amor, paz, igualdade e justiça, para todos, seria impossível de existir.
Está impossibilidade, imagino, seria devido tanto aos nossos vícios intrínsecos quanto às próprias desigualdades com as quais todos nós fomos aquinhoados desde o nascimento, pelo nosso próprio Criador: diferentes inteligências, distintas capacidades de empreendedorismo, distintas oportunidades, desiguais forças físicas, distintas belezas corporais, distintas sabedorias, diferentes características morfológicas e de saúde, diversos caracteres psicológicos, diversas raças, além de distintos tempos de vida. Aquele que nos criou, certamente, estava mais interessado em estabelecer diferenças do que prover igualdades entre as suas criaturas. Imagino que deva existir uma razão plausível para o fato e tentarei explorá-la:
Em que pesem as religiões atuais pregarem que somos todos irmãos e filhos de um mesmo Criador e que elas são as únicas e verdadeiras representantes deste pai celestial, o simples raciocínio nos conduz a imaginar que, se fosse desejo do próprio Criador, aquele que tudo pode, certamente, ele ter-nos-ia feito, a todos, com características físicas e intelectuais idênticas, igualmente belos e com as mesmas aptidões.
Em minha modesta opinião o Criador teria sido mais coerente com a nossa Razão Prática (mencionada pelo filósofo Emmanuel Kant em sua obra ‘Critica da Razão Prática’), se tivesse feito com que nascêssemos iguais em nossa criação, isto é, fôssemos todos idênticos, física e intelectualmente e, a partir daí, aproveitássemos as oportunidades desiguais que a vida nos oferece em qualquer lugar do planeta; ao invés de, conforme a nossa Razão Pura (mencionada pelo filósofo Immanuel Kant em sua obra ‘Crítica da Razão Pura’) e ingênua, teoricamente, preconiza: tendo todos nascidos desiguais, por desejo do Criador, devamos ter oportunidades iguais e sermos mantidos todos sob uma mesma lei, de amplitude universal.
Voltando ao tema central deste texto, podemos constatar que jamais alguma religião apregoou um novo mundo de igualdade, justiça, paz, amor, compreensão e demais virtudes, que não fosse alcançado apenas após a morte; um mundo que não possuísse nenhuma conotação religiosa, esotérica ou metafísica e cujo alcance não fosse oneroso financeiramente, em vida, para aquele que nele acreditasse. O mundo novo, apregoado desde a antiguidade pelas religiões existentes, teoricamente, é o local ideal para vivermos e onde encontraríamos vivendo os nossos parentes ancestrais e os nossos amigos que para lá já houverem sido conduzidos. A passagem desta vida atual para a do outro novo mundo, todavia, as religiões ainda não conseguiram fazer com que fosse realizada sem dor ou sofrimento, tanto para aqueles que seguem quanto para aqueles que ficam e, ademais, sem que antes aqueles que seguem tenham sido filiados às respectivas religiões e contribuído com os respectivos dízimos durante algum tempo.
Antes dos cemitérios serem instituídos e mantidos pelos municípios, aqueles existentes ficavam ao lado das igrejas, templos e mosteiros (ou até mesmo dentro deles) e pertenciam às diversas religiões. Neles só poderiam ser enterrados os membros pertencentes às religiões proprietárias dos respectivos cemitérios. Este era mais um fator a prender o adepto ou seguidor àquela religião, visando ser bem recepcionado pelos Deuses e espíritos iluminados em sua nova vida no mundo ‘post mortem’.
Da mesma forma como aventei anteriormente no questionamento sobre a inexistência de religião ou ideologia que propusesse uma nova forma de governo no nosso próprio planeta, diferente da atual, este próximo questionamento que farei diz respeito a inexistência, também, de qualquer religião que mencione uma nova vida após a morte, em um novo plano de existência ou em uma nova dimensão, simplesmente como um fenômeno físico, sem nenhuma conotação religiosa ou ideológica. Todos os seres que ali vivessem, após terem morrido em nosso planeta, estariam em uma nova existência física, trabalhando em prol da coletividade, praticando somente virtudes e sendo governados ou orientados por seres dedicados, apenas, a fazer o bem.
Será que, tanto neste planeta Terra quanto em algum outro plano de existência, antes ou após a morte do ser humano, as coisas necessitariam, forçosamente, seguir por caminhos religiosos ou ideológicos?
Algumas religiões e ideologias, evidentemente, se aproximam destas hipóteses aventadas; porém, todas pecam justamente pela ideologia ou pela religião explicitadas logo de início, que fazem com que, conhecendo o gênero humano, percebamos nelas unicamente os desejos de poder, de riqueza e de dominação, por parte de seus idealizadores, continuadores e administradores, sobre todos os seguidores das mesmas como sobre os demais seres humanos. Notem que todas as religiões e ideologias vivem a caça de adeptos e seguidores. Seus objetivos são como o dos vírus: estenderem-se por toda a população do planeta.
Evidentemente, como todas as concepções ideológicas, religiosas e metafísicas existentes, já formuladas pelo homem desde o início dos tempos, foram frutos, exclusivamente, do pensamento humano, estas novas concepções aqui mencionadas, também poderiam ter tido os seus lugares na história da humanidade. Por que jamais foram pensadas, ensinadas e inculcadas na mente humana como sendo verdadeiras, como fizeram com todas as demais que, mesmo eventualmente não sendo verdadeiras, vingaram nos quatro cantos do mundo?
As únicas hipóteses que teriam passado perto desta nova anteriormente mencionada neste texto para a vida após a morte, foram as do Cristianismo, do Islamismo e do Budismo e, mesmo assim, lhes têm sido historicamente atribuída uma conotação de ordem religiosa para cuja edificação, desde que surgiram como religião, os seus crentes, fiéis ou seguidores acabaram contribuindo de forma vultosa, econômica e financeiramente, e com muito trabalho físico de natureza pessoal (vejam, por exemplo, quanto foi gasto pelos adeptos em dinheiro e em vidas humanas com o episódio das nove Cruzadas empreendidas pela Igreja Católica contra Jerusalém, na Palestina.); ademais da existência de muito cisma, desavenças, discórdias e divergências entre religiões que representavam o Criador de Todas as Coisas, religiões estas que, segundo sempre apregoaram, seus princípios fundamentais eram apenas a prática das virtudes e a sua pregação.
O estudo da história, todavia, nos mostra que católicos e protestantes se odiaram e combateram entre si ao longo da história. Um exemplo consistiu no massacre da noite de São Bartolomeu, que foi um episódio da história da França, na repressão ao protestantismo, engendrado pelos reis franceses que eram católicos. Esses milhares de assassinatos aconteceram em 23 e 24 de agosto de 1572, em Paris, no dia de São Bartolomeu.
O mesmo ocorreu, ao longo da história, com os islâmicos sunitas e xiitas, que se enfrentam e exterminam sempre que podem, em diversos países muçulmanos. As várias correntes do Budismo, por sua vez, também procederam da mesma forma. A primeira linha de conflito encontra-se dentro da corrente de Kagyüpa, fundada por volta da metade de século XI pelo mestre tântrico Naropa. A segunda linha de conflito é aquela em que o Dalai Lama é um dos protagonistas. Nesta linha, o papel do antagonista é desempenhado por Geshe Kelsang Gyatso, monge da corrente Guelugpa até sua “emancipação”, em 1991. A terceira linha atinge ramificações que se referem à tradição budista oriunda do monge Nichiren Daishonin (1222-1282), o último representante do chamado budismo japonês de reforma do século XIII.
O que se viu crescer e proliferar mundialmente, após tantos séculos de pregação religiosa foram alguns enormes impérios religiosos, multimilionários, constituído por diversas religiões e seitas que são comandados por uns poucos milionários. Ao invés de algumas religiões se tornarem agentes propagadores do amor, da paz e da compreensão no nosso planeta elas têm sido com frequência, agentes do radicalismo, da intolerância, do ódio racial e da busca pelo lucro fácil retirado de populações pobres, influenciáveis e crédulas.
Seus mais altos dirigentes, na atualidade, passaram a ser nada mais, nada menos, do que altos empresários do mundo das finanças, possuidores de bancos comerciais, empresas financeiras, industriais, comerciais e de serviços, gozando de benefícios e renúncias fiscais dos governos dos países onde estão localizadas. Pode-se, mesmo, dizer que seus mais altos dirigentes, empresários de sucesso, nas horas vagas desempenham, eventualmente, a função de sacerdotes.
Em vista disso, sou forçado a tecer algumas conclusões que tanto podem ser mutuamente excludentes quanto se intercederem parcialmente ou serem superpostas, para usar um pouco da Teoria dos Conjuntos:
1. Que todos os nossos reis, monarcas, imperadores, dirigentes e governantes sempre trabalharam a serviço de religiões ou de ideologias (nunca a serviço de seus súditos, povos e populações), visando o alcance e a manutenção do poder, a dominação das populações e a obtenção de riqueza; ou então que delas sempre se beneficiaram ao longo de seus mandatos, mediante um apoio mútuo velado que proporcionava credibilidade a ambas; Neste caso, nós, os seres humanos, teríamos sido vítimas inocentes de um engodo histórico de proporções planetárias, quer por acreditarmos em vida após a morte (nos países onde prevalecem as religiões), quer por não acreditarmos (nos países onde os governantes são ateus, as religiões proibidas e substituídas pelas ideologias).
2. Que os seres humanos e suas eventuais almas, imperfeitos por natureza, na realidade, jamais estiveram aptos a viver sem os correspondentes vícios que os acompanham desde o nascimento. Que as verdadeiras molas que os movem são a inveja, a ambição, o egoísmo, o orgulho, a covardia, a ganância, a mesquinharia, etc. Considerando-se esta hipótese formulada, imagino que qualquer proposta (ideológica, religiosa ou mesmo não ideológica e nem religiosa) que falasse, tão somente, na implantação global de uma sociedade humana praticante apenas de virtudes em seus relacionamentos pessoal, nacional e internacional, a mesma seria prontamente rechaçada pela nossa espécie especializada e, de forma redundante, viciada em vícios; razão pela qual jamais foi posta em prática no planeta em que vivemos.
3. Que, paradoxalmente, uma civilização baseada no amor, na paz e nas virtudes, segundo pregam todas as religiões, só se torna viável após a morte do ser humano e apenas seria exequível em outro plano dimensional. Nesta existência real, terrestre, isto não tem sido possível em razão dos vícios humanos, como a inveja, a ambição, o egoísmo, o orgulho, a covardia, a ganância, etc., que conduzem os povos às guerras e os seres humanos a se explorarem mutuamente. A experiência terrestre que, na teoria, mais se aproximou desta proposição aqui formulada foi àquela denominada socialista; porém, esta não é baseada no amor, nem na paz e nem nas virtudes, posto que, ademais de edificada sobre falácias e premissas ideológicas falsas, os seres humanos, imperfeitos por natureza, jamais deixaram de ser movidos por seus interesses vulgares, mesquinhos e egoístas.
4. Sou forçado a crer que a experiência humana, embora imaginada e elaborada por um Criador perfeito, da mesma forma como já ocorreu com algumas Agências Espaciais ao redor do mundo, foi um projeto que falhou no lançamento. Teve que ser corrigido em diversas ocasiões, ao longo da história, e ainda hoje não está pronto para ser lançado ao espaço. Talvez, jamais esteja ao considerarmos que este planeta pode nunca ter sido uma base de lançamentos, como nós sempre imaginamos, mas, simplesmente, uma reles oficina mecânica com a função de proceder a reparos internos e externos naqueles que por aqui aportam.