“O Brasil para ser desenvolvido e respeitado pelos demais Estados têm de lutar em defesa de sua soberania e por ideias que exerçam apelo além de suas fronteiras”[1].
Pinto Silva Carlos Alberto[2]
A cobiça sobre as incalculáveis riquezas da Amazônia não é uma exclusividade dos dias atuais. O objetivo de integrá-la definitivamente ao contexto nacional tem sido buscado ao longo das gerações, sem ser, contudo, alcançado plenamente.
Dissociada do restante do território nacional, a Amazônia tem sofrido fortes ameaças que atentam contra a soberania nacional, como é o caso da cometida pelo Presidente Macron, da França.
O presidente francês afirmou, em agosto de 2019, que está “em aberto o debate sobre a internacionalização da jurídica da floresta amazônica”.
Houve, também, o projeto de resolução da ONU, apresentado pelos EUA, Reino Unido e França, que estabelecia a perspectiva de que as mudanças climáticas pudessem ser analisadas pelo Conselho de Segurança como uma ameaça à paz, expandido significativamente os critérios usados pela agência mais poderosa da ONU para justificar a intervenção em conflitos armados em todo o mundo, que foi vetado pela Rússia.
A situação vivida na atual conjuntura brasileira é a de paz relativa, uma Guerra Política[3] Permanente, não há inimigo e sim estados desencadeando ações hostis em defesa dos seus interesses. Está acontecendo um “Conflito na Zona Cinza”, (zona cinzenta entre as noções tradicionais de guerra e de paz) caracterizado por uma intensa competição política, econômica, informacional, mais acirrada que a diplomacia tradicional, porém inferior à guerra convencional, realizada por Estados[4] que têm seus interesses desafiados pelo Brasil.
O termo “Permanente”, por sua vez, não possui relação direta com a duração das guerras. Diz respeito, na verdade, à condição assumida pelo Estado de que qualquer ação de política externa, em defesa de interesses nacionais, é um “conflito na zona cinza”.
Ninguém começa uma Guerra Política contra um país amigo do seu povo, ou melhor, ninguém de bom senso deve fazê-lo, sem ter bem claro em sua mente o que com ela pretende alcançar. Alguns países da Europa, motivados pela assinatura do acordo MERCOSUL e União Europeia, acusam o Brasil de estar destruindo a Amazônia e de não cumprir com acordos relativos ao meio ambiente, e ameaçamcom retaliações políticas e econômicas, mal disfarçando o verdadeiro motivo que é o de proteger suas economias.
A decisão de empreender uma “Guerra Política” contra o Brasil poderia ser baseada numa avaliação de custos e benefícios, ser empreendida com vistas a alcançar-se um objetivo político que fosse de interesse do Estado Frances, e nunca para atender a necessidade do Presidente Macron de se projetar internacionalmente como “defensor da humanidade”, e recuperar sua reputação na política interna protegendo seus agricultores.
O centro de gravidade da ação dos Estados hostis ao Brasil, na atual conjuntura, está voltado a desestabilizar o governo, a desacreditar autoridades, a criar o caos na sociedade com o auxílio do potencial de protesto da oposição e da imprensa simpática à social-democracia, sucedendo-se a uma inevitável crise política.
Devido às nossas possíveis atividades de defesa serem de um país em desenvolvimento contra países do G7, as ações devem ter um objetivo político claramente definido e responsabilidades políticas firmemente estabelecidas. Devemos criar, com a participação da sociedade, uma “Frente Nacional” de defesa do país.
Existem certas medidas fundamentais, entre elas, como manobra interior:
– despertar o interesse da sociedade pelos assuntos de defesa;
– arranjar a harmonização dos três Poderes em assuntos de defesa e política externa;
– combinar o emprego de forças militares com as ferramentas tipicamente de Estado;
– buscar a integração das diversas ferramentas do Poder Nacional e dos grupos não estatais em benefício da defesa dos interesses nacionais do país, forçando o oponente a confrontar vários campos de batalha, simultaneamente;
– permitir o uso todos os elementos do Poder Nacional, em uníssono e com a combinação certa de instrumentos diplomáticos, econômicos, militares não cinéticos, políticos, jurídicos e culturais para cada situação;
– obter a participação da própria população na defesa da soberania da nação;
– entendimento de que todos os fatores do Poder Nacional possuem uma estreita dependência do poder econômico, a ciência de bem aplicá-los na defesa da nossa soberania está na sua integração e harmonização;
– alcançar a excelência nas atividades de guerra em rede, de inteligência artificial, segurança cibernética, espionagem eletrônica, e o uso de drones como base de fogos e operações de inteligência.
– procurar que todos os brasileiros, ou a sua maioria, saibam o que é um “Conflito na Zona Cinza[5]”; e
– usar a Guerra Assimétrica Reversa[6] e a Assimetria Estratégica[7];
E como Manobra exterior:
– Atuação forte na ONU, na OEA, no BRICS, e no MERCOSUL expondo a Guerra Política desencadeada por alguns países visando atingir o Brasil, e desestabilizar autoridades e a economia;
– Busca de apoio em países como, Espanha, Itália, China, entre outros, que já fizeram declarações favoráveis ao Brasil; e
– Procurar as multinacionais instaladas no Brasil discutindo as vantagens de um bom relacionamento entre Brasil e seus países.
Nós, brasileiros, não devemos perguntar quanto custa à nação a resistência que toda a comunidade é capaz de oferecer, empregando todas as ferramentas disponíveis ao Poder Nacional, para a defesa de nossa Soberania, mas indagarmos qual é o efeito que esta resistência pode gerar, e, caso ela não seja desencadeada, cobrar ao Governo o por qual razão?
O Brasil deve se preparar para um longo período de conflito, pois razão não é a defesa do meio ambiente, da Amazônia, ou a luta contra as queimadas, mas sim as riquezas da Amazônia e a reação da esquerda e da social-democracia europeia e brasileira à um governo de direita no Brasil. No passado recente, de governos de esquerda, o desmatamento e as queimadas foram, em algumas ocasiões, maiores e sem protesto de países europeus e da imprensa interna e externa.
Por oportuno, pode-se identificar:
– no desabafo de Caxias, em carta ao Visconde de Rio Branco por ocasião do episódio conhecido por “Questão Christie”, o sentimento das Forças Armadas quando não recebe do Estado a atenção devida: “Não se pode ser súdito de nação fraca. Tenho vontade de quebrar a minha espada quando não me pode servir para desafrontar o meu País, de um insulto tão atroz”; e
– que a “Guerra da Rússia com a Ucrânia” acendeu, para o “Mundo”, a ideia de que os países devem estar prontos para defender seus interesses e lutar quando necessário por seus valores e sua soberania.
[1] Adaptado da frase de Samuel Huntigton: “Uma superpotência tem de lutar por uma ideia que exerça apelo além de suas fronteiras”.
[2] Carlos Alberto Pinto Silva / General de Exército da reserva / Ex-comandante do Comando Militar do Oeste, do Comando Militar do Sul, do Comando de Operações Terrestres, Ex-comandante do 2º BIS e da 17ª Bda Inf Sl, Chefe do EM do CMA, Membro da Academia de Defesa e do CEBRES
[3] “O uso de todos os meios de disponíveis de uma nação para alcançar objetivos nacionais sem entrar em guerra”. É uma Guerra Política permanente na Guerra de Nova Geração.
[4] França e Alemanha.
[5] “A Zona Cinza se caracteriza por uma intensa competição política, econômica, informacional e militar, mais acirrada que a diplomacia tradicional, porém inferior à guerra convencional”.
[6] “Todo e qualquer tipo de conflito bélico em que, pelo menos em algum momento, existe a efetiva limitação ou, em termos mais precisos, autolimitação do emprego da evidente superioridade militar e, particularmente, tecnológica no campo de batalha”.
[7] “Em questões militares e de segurança nacional, a assimetria estratégica significa agir, organizar e pensar diferentemente do adversário para maximizar os esforços relativos, aproveitando suas fraquezas, e adquirir maior liberdade de ação” (Steven Metz).